Só
será possível avaliar o impacto da operação após as eleições de 2022
Sérgio
Moro e Filippo Mancuso têm duas coisas em comum: ocuparam a pasta da Justiça
sob Bolsonaro e Berlusconi. E perderam os cargos em meio às disputas da Lava
Jato e de sua congênere italiana, a Operação Mani Pulite (1992-1993).
Mas
há também diferenças marcantes entre os dois. Moro foi demitido por Bolsonaro;
Mancuso foi destituído do cargo por meio de uma moção de censura no parlamento.
Moro
perdeu o cargo por não se curvar a Bolsonaro em sua estratégia de proteger o
clã familiar das investigações sobre rachadinhas. Mancuso foi punido por
proteger Berlusconi e interferir nas investigações da Mani Pulite e contra a
máfia. No parlamento se uniram a esquerda e a Lega Nord.
Sim, a comparação entre o Brasil e a Itália sugere importantes paralelos, mas leva também a erros interpretativos. O sinal político está trocado. As operações anticorrupção levaram à debacle eleitoral dos principais partidos. Na Itália, aconteceu com a Democracia Cristã (DC), de centro-direita, e o Partido Socialista (PSI), de centro-esquerda, da coalizão que estava no poder, e à qual pertenciam 84% dos políticos indiciados. A DC minguou e mudou de nome; o PSI, não elegeu ninguém. Ambos os partidos desapareceram, o que não ocorreu no Brasil.
Mancuso
foi o braço judicial utilizado por Berlusconi na vendeta familiar contra
magistrados que, segundo ele, perseguiam os políticos de direita. Como no caso
do clã Bolsonaro, as denúncias contra a “famiglia” Berlusconi não mantinham
relação direta com a Operação Mani Pulite. Seu irmão foi preso por propina paga
pela Fininvest, a holding familiar.
Estas
operações deflagraram reformas eleitorais históricas: a Itália abandonou o
sistema de representação proporcional vigente de 1948 a 1992; o Brasil proibiu
o financiamento empresarial de campanhas.
Berlusconi
perdeu a primeira batalha, mas ganhou outras. Chicanas fizeram com que outra
ação contra a Fininvest tivesse que ser retomada do zero, levando-a à
prescrição. A reação do establishment na Itália parece ter prevalecido, como
está acontecendo no Brasil.
Em
estudo rigoroso sobre o impacto da Mani Pulite, Asquer, Golden
e Hamel comparam a participação de políticos envolvidos em corrupção
nas eleições antes e depois da Mani Pulite. Concluem que ela se reduziu
consideravelmente. Os eleitores passaram a demandar políticos limpos, punindo
os envolvidos em corrupção. Possivelmente “uma reação contra a reação”
conservadora contra a Mani Pulite. Mas o mais importante segundo o estudo é que
a oferta de políticos sujos diminuiu.
Ainda
é cedo para analisar o impacto da Lava Jato. A lição a tirar do estudo é que o
teste será em 2022.
*Professor
da Universidade Federal de Pernambuco e ex-professor visitante do MIT e da
Universidade Yale (EUA).
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