Governismo
relança plano de mudança menor, também para tentar tirar a atenção sobre CPI
Em
uma reforma
tributária que preste, alguns tipos de empresas vão pagar mais
imposto, outras menos, assim como os consumidores de bens e serviços afetados.
O objetivo é uniformizar o quanto possível o custo dos tributos. A
uniformização de carga tributária por setor ou empresa e a simplificação de
normas será tanto maior se incluir impostos centrais para estados (ICMS) e
municípios (ISS). Quanto menos uniformizar e simplificar, menos a reforma vai
prestar.
As
contas dessas perdas e ganhos nem foram detalhadas, embora se estime que
serviços como saúde, educação, telecomunicações e serviços profissionais (como
advocacia e consultorias, a depender do regime: se não estão no Simples) devam
pagar mais, seja na mudança parcial proposta pelo governo seja na mudança geral
que vinha sendo analisada pela Comissão Mista do Congresso.
Com
dinheiro na mesa, a discussão engrossa. Se houver rolo político anterior mesmo
ao debate de quem paga a conta e quanto, o caldo engrossa e entorna. Voltou a
entornar nas últimas três semanas e nesta terça-feira (4) escorreu pelo chão.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-SE), que entre outras coisas quer ser o líder-mor do governo no Parlamento, por ora deu fim à Comissão Mista que unificava projetos (de Câmara e Senado) de uma reforma ampla, geral, que trata de todos os impostos relevantes e inclui estados e municípios na mudança. Lira quer tocar a reforma de Paulo Guedes ou do governo, embora Jair Bolsonaro não tenha ideia do que se trata e tende a fazer alguma besteira assim que começar a ouvir queixas de setores afetados. Ainda mais se for relembrado de que, no fim do caminho da reforma de Guedes tem uma espécie de CPMF.
Em
tese, o “imposto sobre transações” de Guedes, jamais explicado, serviria para
reduzir impostos sobre a folha salarial de empresas, carga que seria
redistribuída pela sociedade, em particular, diz gente do governo, sobre
setores novos ou que pagam pouco de imposto. Na proposta original do governo,
“fatiada”, também tem pedaços de reforma do IR da pessoa física, com redução
geral de alíquota e fim de isenções para saúde e educação —justo, mas rolo na
certa.
A aversão a
alguma CPMF pode acabar com a reforma do governo que não trata
de PIS/Cofins. O assunto, então, estaria morto até 2023, pelo menos.
Lira
deu seu tiro na reforma geral quando o parecer sobre a emenda constitucional,
aliás bem razoável, era lido pelo deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).
Guedes
não quer a reforma geral. Quer aprovar a mudança e simplificação do PIS/Cofins,
que vem de Michel Temer.
Embora
ainda dê rolo (quem paga a conta), é de fato mais simples fazer essa mudança
(em termos técnicos e legislativos). Tem também a vantagem de, talvez, mudar um
pouco de assunto na política, dominado pela CPI da Covid.
A cortina de fumaça deve ser furada, mas o governismo atropelado pela CPI não
tem alternativa. Nem mesmo a ameaça dos comícios golpistas bolsonarianos do
final de semana recebeu atenção.
Uniformizar
impostos é necessário para que se tenha uma economia de mercado funcional.
Impostos definem custos e, pois, podem distorcer investimentos. Trocando em
miúdos bem simples e grossos, um investimento pode ser decidido não porque é
rentável (com uso eficiente do capital), mas porque recebe algum favor (redução
de impostos).
Jogar fora as emendas constitucionais da reforma tributária é desperdiçar um trabalho de anos. Mas tal reforma exige acordos sociais, econômicos e políticos complexos. Logo, não parece coisa de governo Bolsonaro.
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