A
eleição presidencial está distante, mas contamina o cenário econômico
A
eleição presidencial está distante, mas contamina o cenário econômico. Mostra
disso é que não cessam as pressões por mais gastos na novela do orçamento, em
meio à crescente fragilidade do governo.
Difícil
é distinguir o que é fruto da intenção de alavancar Bolsonaro e o que são os
interesses paroquiais de parlamentares que reconhecem o risco político de ser
aliado do presidente.
Os
presidentes que buscam a reeleição costumam ser os favoritos nas corridas
eleitorais. Contam com o poder de usar a máquina pública em seu benefício e têm
maior potencial de apoio, que se traduz em arrecadação de recursos de campanha
e tempo de TV.
Bolsonaro,
que ainda procura um partido para chamar de seu, provavelmente não contará com
as mesmas vantagens, a depender do cenário de baixa aprovação em 2022. O cacife
de um político decorre de sua perspectiva de poder.
Seu
ponto de partida é bem menos favorável. A avaliação positiva do governo estava
em 30% em meados de março (Datafolha), inferior aos cerca de 42% dos
ex-presidentes em período equivalente.
Em termos líquidos, o degrau é maior: -14% (30% menos 44% de ruim/péssimo) ante cerca de +25% dos antecessores. E a aprovação seguiu em queda, segundo a pesquisa Exame-Ideia: 23% para avaliação bom/ótimo no dia 22 de abril ante 27% em 25 de março.
O
espaço para melhora adiante parece limitado. O presidente pouco conseguirá
capitalizar o avanço da vacinação, pois esta nunca foi sua bandeira, pelo
contrário. Além disso, a Coronavac de João Doria e a CPI da Covid poderão
atrapalhar suas pretensões.
Na
economia, mesmo considerando um cenário otimista de controle da pandemia até
2022 – algo improvável segundo muitos especialistas -, há limites para uma
puxada do mercado de trabalho, variável chave para a aprovação de qualquer
governo.
Mesmo
com a renovação de medidas de socorro, não será possível repetir, nem de longe,
a dose de estímulos de 2020, que totalizaram 10% do PIB, incluindo recursos do
Tesouro e crédito direcionado. Vale notar que, em sua maioria, são medidas de
curto alcance para preservar o consumo de famílias e evitar demissões.
Nada
que gere ganhos mais perenes, como no caso de ações para treinar a mão de obra
ou financiar a inserção tecnológica de pessoas e empresas. Soma-se a isso a
necessária alta de juros pelo Banco Central, cujo efeito máximo sobre a
economia se dará em 2022.
É
verdade que o relaxamento do isolamento social irá beneficiar os segmentos de
serviços que mais contratam, mas muitos indivíduos estarão à margem do mercado
de trabalho por falta de qualificação adequada às exigências da tecnologia.
Difícil
reverter o quadro observado em 2020, quando o número de ocupados com ensino
superior completo cresceu 7,6%, enquanto os demais amargaram com o recuo de
13,2%. Está contratada a piora adicional dos indicadores de desigualdade, um
combustível extra para a insatisfação social.
Adicionalmente,
a busca de ganhos de produtividade pelas empresas reduz o potencial de contratações
no curto-médio prazo. A indústria, por exemplo, retomou os patamares de
produção pré-crise, mas pouco contratou.
Fevereiro
registrou recuo de 10,8% no número de ocupados na comparação anual. O mesmo
ocorreu em outros setores, como apontou Naercio Menezes Filho, no Valor.
A
baixa popularidade tende a afastar mais apoiadores e aliados. Não à toa o
mercado financeiro especula precocemente como seria o governo Lula.
Os
mares também serão revoltos em outras frentes. Com o desgaste de Paulo Guedes,
incluindo as polêmicas que pululam nas redes sociais, talvez o presidente
busque outro Posto Ipiranga, repetindo o gesto de Dilma na campanha ao
descartar Guido Mantega em seu segundo mandato.
Qualquer
que seja o desfecho, é improvável que consiga repetir a fórmula de 2018, com um
futuro ministro amealhando o apoio de investidores e empresários. Seu
descompromisso com reformas afasta bons nomes.
A
bronca no exterior com Bolsonaro tampouco ajuda. Constrangimentos e retaliações
ao governo poderão crescer. Não haverá sua foto ao lado de líderes de países
com interesses no Brasil.
São muitos pratos a equilibrar. Na falta de malabaristas competentes, cresce o risco fiscal, com terrível legado para o próximo governo. Fica a dúvida: quanto o Centrão vai topar a aventura para apoiar um candidato mais fraco do que supunha, em meio ao escrutínio de investidores?
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