Não
foi à toa que senadores até respiraram aliviados com o atestado que Eduardo
Pazuello apresentou para fugir da raia e não depor hoje. A CPI da Covid, se
ouvisse o ministro da Saúde responsável pelo maior número de mortes que tivemos
até aqui sem nenhum preparo, como se viu nesta terça-feira, ajudaria a
narrativa do governo de que não há crime, omissão nem sequer erro na condução
dos protocolos de saúde.
Para
que não seja um placebo de açúcar, esta CPI precisa urgentemente entender que,
sem um corpo técnico consistente, não irá a lugar algum.
Na
CPI dos Correios, a última de fato robusta que tivemos no Congresso, e lá já se
vão 11 longos anos, a “batcaverna”, como chamávamos a assessoria técnica que
carregava o piano, era a área mais frequentada por jornalistas que publicavam
as informações exclusivas resultantes de quebras de sigilos, cruzamentos de
saques no famoso Banco Rural etc.
Numa investigação sobre pandemia, os técnicos necessários para que os senadores não paguem mico com perguntas sem pé nem cabeça não são os mesmos de CPIs anteriores. Mais que auditores da Receita ou delegados da Polícia Federal, é preciso que presidente, vice e relator requisitem infectologistas, sanitaristas e especialistas em saúde pública e no funcionamento do SUS para auxiliá-los.
Há
também que fazer uma lição de casa mínima. O Tribunal de Contas da União já
produziu cinco relatórios de acompanhamento das ações do Ministério da Saúde ao
longo da pandemia. O último, que detalhei no meu blog no GLOBO, tem 96 páginas
e se detém sobre questões como a ausência de uma campanha de comunicação
eficiente da pandemia, a falta de protocolo necessário para o tratamento da
Covid-19, a ausência de testagem, a falta de rastreamento de contatos e de
previsão orçamentária para fazer frente a gastos importantes no enfrentamento
da emergência sanitária.
Os
relatórios dizem respeito às gestões dos três ministros da Saúde anteriores a
Marcelo Queiroga. Sugerem punições a eles e a subordinados. Portanto, já
constataram falhas, omissões e a desobediência em implementar recomendações.
Esses
textos deveriam estar na mesa de cada um dos senadores, anotados com canetas
marca-texto por seus auxiliares, transformados em requerimentos de informação
para a solicitação de documentos (que, aliás, estão enumerados ali) e para a
cobrança de providências concretas. Nada disso foi feito até aqui.
Diante
da falta absoluta de compreensão dos meandros administrativos de uma pasta
complexa e capilarizada como a Saúde, e das atribuições de cada um dos entes
federativos, os senadores só conseguem reproduzir a cantilena tosca segundo a
qual ou a culpa é toda de Bolsonaro ou toda dos governadores e prefeitos. Assim
não se avançará um milímetro, e até o despreparado e incapaz Pazuello, um
general que se pela de medo de se sentar num banco de CPI, tem chance de se
sair bem.
Mesmo
para a oitiva de executivos da Pfizer será necessário que os integrantes da CPI
estudem bem mais. É preciso estabelecer a cronologia e a cadeia de comando que
levou o governo Bolsonaro a abrir mão de comprar uma vacina que já era
promissora quando lhe foi oferecida, pois isso, sim, foi um ato deliberado que
levou a mortes e ao atraso na imunização da população brasileira, ambos fatos
mensuráveis.
Esse é o caminho para que a CPI não fique só no gogó e produza um relatório capaz de embasar uma denúncia do Ministério Público Federal e uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF). Não por outra razão, os senadores precisam atuar em consonância com o STF, onde há um inquérito em andamento sobre o tema. Uma visita do comando da CPI ao ministro-relator desse inquérito, Ricardo Lewandowski, pode estabelecer um intercâmbio de informações entre as duas instâncias que apuram o assunto.
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