- Folha de S. Paulo
Só uma republiqueta permite que perfis
falsos propaguem o golpe e inverdades que levam à morte
De olho na reeleição, o presidente de uma
republiqueta convoca um passeio de motos a favor do coronavírus pelas ruas da
maior cidade do país. Em sua maioria, os motoristas vestem cores escuras, não
usam máscara, cobrem a placa das máquinas e trazem bandeiras e cartazes pedindo
intervenção militar e o fechamento do STF. Um deles cai espetacularmente e
fratura a coluna. A força policial é convocada para garantir a segurança do
candidato e a fluidez no trânsito. O cortejo fúnebre dura quatro horas, ao fim
das quais os cofres públicos estão mais leves em R$ 1,2 milhão.
O melhor vem depois. Apoiadores do presidente correm às redes sociais, postam as fotos mais cheias e falam em 1,3 milhão de veículos no evento, e que esse número, que ultrapassa a frota de São Paulo, havia entrado no livro dos recordes. A informação é logo desmentida pelo Guinness World Records. Um ridículo total, mas eles não se importam.
Pelas contas da Polícia Militar, que usou
imagens registradas em helicópteros e recursos de mapas e georreferenciamento,
o ato teve a presença de 12 mil motos.
No entanto, o sistema de
monitoramento da rodovia Bandeirantes registrou só 6.661 passagens de veículos no
pedágio do trecho bloqueado para a “motociata” (nome fantasia com que os
manifestantes de capacete se referem ao desfile antidemocrático).
Se a mentira alcança tal proporção agora,
imagine no ano que vem, com as eleições. Bolsonaro anda caprichando no discurso
negacionista, ao dizer que as vacinas contra a Covid são experimentais e não
têm eficácia; imunidade só para quem já contraiu o vírus. Uma falsidade e um
crime, mas parece que é isso que algumas pessoas desejam ouvir.
Só uma republiqueta permite que perfis
falsos —acessados dentro da Presidência, do Senado, da Câmara dos Deputados e
da Câmara Municipal do Rio (nesta “não” trabalha um certo vereador)—propaguem o
golpe e inverdades que levam à morte.
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