Folha de S. Paulo
As políticas excludentes e de base
eugenista da dupla Bolsonaro-Guedes também compõem a causa mortis
Paulo Guedes não falha. Sempre oferece
variações sobre o mesmo tema, qual seja, sua aversão às pessoas pobres. Mas,
agora, ele se superou. Disse que as
sobras e os excessos dos almoços da classe média e dos restaurantes podem ser
utilizados para alimentar mendigos e desamparados.
Ele enunciou tamanho absurdo sem corar,
muito à vontade, sabendo que expressa ponto de vista de setor bastante
representativo da sociedade brasileira, do qual é porta-voz. É a mesma visão de
mundo por trás da famigerada
“farinata”, ração feita com produtos próximos da data de vencimento
e que o então prefeito João Doria tentou oferecer a famílias carentes.
É isso também que explica as pedras pontiagudas sob viadutos para afastar pessoas sem teto para bem longe da vista, medida revista pela prefeitura paulistana. O incômodo com o pagamento de direitos trabalhistas às empregadas domésticas, o desgosto de ver pobres viajando de avião, expresso em redes sociais, tudo isso é ódio de classe. E encontra sua síntese em Paulo Guedes.
Incapaz de formular uma política pública de
combate à fome e à insegurança alimentar de milhões de brasileiros, limita-se a
oferecer-lhes migalhas. Para o ministro, quem sobrevive nas bordas da sociedade
tem é que comer o resto da mesa abastada. Viajar para o exterior? Sonhar com
filho na universidade? Viver “100 anos”? Ora, onde já se viu.
Guedes achava que um auxílio de R$ 200,00 por mês seria suficiente para as famílias enfrentarem a pandemia e não podia ser por muito tempo, “aí, ninguém trabalha (…) e o isolamento [social] vai ser de oito anos porque a vida está boa”. A imunidade de rebanho que fizesse o resto. E fez. Neste fim de semana, chegamos aos 500 mil mortos. Essa marca inimaginável não é obra exclusiva do vírus. As políticas excludentes e de base eugenista da dupla Bolsonaro-Guedes também compõem a causa mortis desses brasileiros. Presidente e ministro assinam os atestados de óbito.
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