Mas quando parece que as polêmicas inúteis
estão afastadas, novos temas afastam a opinião público do essencial. A mais
recente, levantada por um estranho parecer não oficial de um auditor do TCU,
introduzido furtivamente no sistema da instituição, levanta absurda tese sobre
a veracidade dos números e a possível supernotificação. O pior é que a
informação improcedente foi repercutida pelo Presidente da República.
O sistema de informações epidemiológicas sempre foi central para o correto planejamento das ações. O SUS é rico em bancos de dados. A confiabilidade dos dados é fundamental para a credibilidade, transparência e eficiência na produção das políticas públicas de saúde. Um dos indicadores mais importantes é a estatística anual do perfil das causas de mortalidade.
Estudos realizados pelo CONASS – Conselho
Nacional de Secretários de Saúde – e pela revista THE ECONOMIST desmentem o
misterioso e inexplicável relatório do auditor do TCU, que inclusive já foi
afastado de suas funções.
O estudo do CONASS trabalha com as mortes
naturais, excluindo as causas externas (acidentes de trânsito, crimes,
suicídios, etc.), analisando os dados de mortes em 2020. Há um excesso de
mortes (acima da progressão normal da série histórica) de 275.587 mil mortes
para um total de 194.976 mortes atribuídas à COVID-19. Não há nenhum fator
novo, exceto a pandemia, que poderia explicar essas 80.611 mortes. É um sintoma
concreto de subnotificação e não de supernotificação.
Confirmando o estudo do CONASS, a THE
ECONOMIST trabalha com o número de mortes totais (incluindo as por causas
externas) de abril de 2020 a abril de 2021. E aponta um excesso de mortes 6,2%
acima das diagnosticadas como derivadas da COVID-19. Qual a vantagem em
desacreditar os números oficiais do sistema de saúde?
Se não bastasse isso, a exótica polêmica sobre
a cloroquina e o tratamento precoce permanece de pé. Leigos e sectários
acreditarem em fake news ainda é compreensível. Mas médicos, não. Nenhum país
sério está discutindo isto. Por que o Brasil insiste?
A vacinação, único caminho para a superação
da pandemia, evoluí lentamente. E não é problema operacional. O Brasil foi
sempre modelo mundial de imunização. Temos 51 mil equipes de saúde da família
espalhadas em todo o Brasil que poderiam vacinar 3 milhões de brasileiros por
dia. O problema foi o atraso na compra das vacinas.
Mas, duas sequelas graves estão ficando
desapercebidas. Primeiro, a deterioração na distribuição de renda. Estudo da
FGV/Social comparou o Índice de Gini (que mede a concentração de renda) dos
primeiros trimestres de 2020 e 2021. Em 2020, era de 0,642 (quanto mais próximo
de 1, maior é a concentração). Em 2021, bateu nos 0,674, maior índice da série
iniciada em 2012. A renda por habitante caiu 11,3%, de R$ 1.122,00 para R$
995,00. A desigualdade aumentou durante a pandemia.
Outro legado negativo é a interrupção do
processo de aprendizado das crianças e jovens pobres que não têm internet de
qualidade. Pode ser um dano irreversível e grave.
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