segunda-feira, 5 de julho de 2021

Fábio Gallo* - Olha a inflação aí, gente!

O Estado de S. Paulo

Se tem um povo que sabe falar de inflação, é o nosso

Se tem um povo que sabe falar de inflação, é o nosso. Nós aprendemos a lidar com esse monstro há tempos, embora nesses últimos anos estivéssemos mais desligados do assunto. Mas, neste ano, voltamos a olhar para o aumento de preços com mais apreensão. A previsão é que o IPCA esteja perto de 6% no acumulado de 2021, portanto acima do teto da meta prevista para o Banco Central. 

O aumento da inflação assusta, mas não é para entrarmos em pânico. Devemos ter maior atenção com o orçamento familiar, que exige maior controle e também com os nossos investimentos. Alterações nas carteiras dos investidores ajudam a manter os efeitos inflacionários sob controle e podem levar a ganhos. Deve-se investir inteligentemente, o que significa reestruturar sua carteira estrategicamente, realocando ativos para minimizar o risco.

Neste momento deve ser buscado novo equilíbrio entre renda fixa e renda variável. Uma questão importante, aqui e no exterior, é se os títulos do Tesouro e as ações continuarão negativamente correlacionadas. Em outros termos, quando os preços dos títulos sobem, os das ações caem.

Com a inflação subindo, o Banco Central está aumentando os juros, e a previsão para o final do ano é estarmos com a Selic em 6,5% ao ano. Essa subida da taxa, em tese, favorece a renda fixa. Mas, escolher dentro da renda fixa o título mais adequado, é importante. Exemplificando com títulos do Tesouro Direto: o título Tesouro IPCA+2026, que paga uma taxa fixa mais a variação do IPCA, atualmente oferece uma rentabilidade líquida de 6,5% ao ano, simulação considerando a inflação média de 3,9% ao ano. Aplicando no Tesouro prefixado para vencimento também em 2026, a rentabilidade líquida oferecida é de 7,17% ao ano, mas o risco da inflação fica com o investidor. Já na aplicação no Tesouro Selic, o título que acompanha a variação da taxa de juros, a rentabilidade líquida é de 5,92% ao ano, mas com vencimento em 2027. 

Sempre busque casar o vencimento do título com o seu objetivo. O resgate antecipado expõe o investimento ao risco de mercado, o que significa que, caso ocorra a subida de juros, o valor do título cai. Outra opção são os fundos de renda fixa atrelados à inflação, mas preocupe-se com a taxa de administração.

Também são interessantes os fundos de índices (ETFs - Exchange Trade Funds) atrelados à inflação que são negociados na Bolsa de Valores. Opção natural neste momento, os fundos imobiliários são temerários por conta da proposta do governo para que esses fundos comecem a pagar Imposto de Renda sobre a rendimentos distribuídos.

Por outro lado, para aqueles com mais apetite por risco, a Bolsa ainda mostra espaço para crescimento. Neste caso, busque ações de empresas que podem se beneficiar com a inflação, como bancos, seguradoras, exportadoras e varejo, por exemplo. Mas sempre analisando com muito cuidado e diversificando.

*Professor de finanças da FGV-SP

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