Folha de S. Paulo
Resta-nos torcer pela gama, mas nos
preparar para a delta
A variante
delta vai provocar uma terceira onda de Covid-19 no Brasil? Não
sabemos, mas essa é uma possibilidade para a qual precisamos estar muito
atentos.
Lidamos aqui com um experimento biológico
inédito, que consiste em lançar a nova variante num ambiente em que a cepa
dominante é a gama. É Darwin quem dá as cartas. Se a delta apresentar uma
vantagem competitiva sobre a gama, então a variante que fez sua primeira
aparição na Índia deverá se espalhar com rapidez entre nós, com grandes chances
de provocar um novo round de contaminações. A delta já mostrou que é capaz de
vencer a alfa e a beta.
Há, é claro, outros fatores a considerar. O mais importante é a quantidade de pessoas que ainda são suscetíveis à infecção por Covid-19. Mesmo que a delta seja muito mais contagiosa do que a gama, a devastação que ela pode causar ficará limitada se a grande maioria da população já estiver imunizada, por vacinas, por ter se recuperado da doença ou por uma combinação dos dois.
E aqui, de novo, a delta preocupa. O Brasil
já vacinou 62% da população adulta com a primeira dose, mas apenas 24% estão
com o esquema completo. Estudos sugerem que a imunização parcial, que já
assegura uma proteção razoável contra as variantes tradicionais, não funciona
tão bem contra a delta. Mesmo países que estavam bem mais adiantados na
imunização (e com um gap menor entre primeira e segunda doses), como Israel,
Reino Unido e EUA, experimentaram repiques quando a nova variante se espalhou.
Nesse contexto, resta-nos torcer pela gama,
mas nos preparar para a delta. Não é obviamente o caso de promover lockdowns
preventivos, mas prefeitos e governadores deveriam redobrar a cautela antes de
relaxar restrições que ainda estão em vigor. É politicamente muito mais custoso
ter de recuar em alguma liberação do que prosseguir com cuidado na reabertura.
As próximas semanas nos trarão as respostas.
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