Folha de S. Paulo
Hitler volta e meia serve de inspiração
para fanáticos.
Há um ano, o general Luiz Eduardo
Ramos dizia ser "ultrajante" falar em golpe militar e
criticou quem comparava Jair Bolsonaro a Adolf Hitler, porque não contribuía
"para serenar os ânimos". Na semana passada, enquanto Ramos estava
para ser desalojado da Casa Civil para abrir espaço para o centrão de Ciro
Nogueira, Bolsonaro se encontrou com a vice-líder do partido Alternativa para a
Alemanha (AfD), Beatrix von Storch, neta do ministro das Finanças de Adolf
Hitler na Alemanha nazista.
Hitler é o exemplo do quão perverso e letal
um político pode ser. Não há comparação. Mas o Hitler mentiroso e propagandista
do ódio, que precede o genocida, volta e meia serve de inspiração para
fanáticos.
Em 1998, Bolsonaro defendeu alunos do Colégio Militar de Porto Alegre que escolheram Hitler como personalidade histórica mais admirada. Disse que os garotos estavam "carentes de ordem e de disciplina". De lá para cá, Bolsonaro fez foto ao lado de um sósia de Hitler, escolheu um slogan ("Brasil acima de tudo. Deus acima de todos") de inspiração nazista ("Alemanha acima de tudo") e precisou demitir um ministro que personificou Goebbels.
A neta do nazista —ela própria investigada
por incitação ao ódio— conseguiu agenda com Bolsonaro por intermediação de Gil
Diniz —aquele deputado estadual que proibiu o uso de máscaras em seu gabinete e
logo ficou sete dias internado com Covid-19. Mais conhecido como Carteiro
Reaça, Diniz conta que tentou ser policial várias vezes —em todas foi barrado
no psicotécnico, exame psicológico que identifica traços de personalidade
incompatíveis com a função. Acabou virando assessor de Eduardo Bolsonaro e hoje
é deputado estadual investigado no inquérito das fake news.
As referências e acenos que Bolsonaro e seus reaças fazem a regimes totalitários costumam ter essa dubiedade —ora soam como ameaças de golpe, ora só parecem atitudes de quem nunca passaria num exame psicotécnico para o cargo que ocupa.
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