Correio Braziliense
Bolsonaro não vai matar a fome de elefantes com
alface. O PP é o antigo PDS, originário da Arena, partido do regime militar,
mas o Centrão tem outras legendas
O presidente Jair Bolsonaro confirmou, na
manhã de ontem, depois de duas horas e meia de conversa, a indicação do senador
Ciro Nogueira (PI), presidente doPP, para o estratégico cargo de ministro-chefe
da Casa Civil do Palácio do Planalto. Entre suas tarefas, estão a coordenação
dos principais programas do governo, a participação nas decisões sobre
remanejamento de verbas do Orçamento, a construção de alianças regionais e a
articulação com o Congresso Nacional, na qual terá dois objetivos prioritárias:
domar a CPI da Covid no Senado, em que os governistas estão em minoria, e
articular a aprovação do voto impresso na Câmara. São duas missões quase
impossíveis, a esta altura do campeonato.
O repertório de mudanças bem-sucedidas no
Palácio do Planalto, em momentos de apuros, não é pequeno. Entretanto, também
houve fracassos. Um deles ocorreu no governo Collor, quando o presidente do
PFL, Jorge Bornhausen, assumiu a recém-criada Secretaria de Governo. Collor
tentara manter seu governo afastado do jogo político-partidário e, por meio de
medidas provisórias, viabilizar seu programa. Entretanto, no início de 1992, o
recrudescimento da inflação, o crescimento do desemprego e as denúncias
envolvendo membros do governo levaram-no a buscar uma base parlamentar que lhe
assegurasse apoio.
Havia duas hipóteses: ceder alguns postos ao PSDB, que fracassou; ou trazer para o governo o PDS (atual PP), o PTB e o PL, a solução adotada. Entretanto, Pedro Collor, irmão do presidente, denunciou a existência de vasto esquema de corrupção no interior do governo, que teria sido montado por Paulo César Farias, o PC, ex-tesoureiro de sua campanha presidencial. Em consequência, uma CPI no Congresso começou a investigar o governo. Na ocasião, Bornhausen afirmou: “As CPIs nunca deram em nada”. No final de agosto, porém, aconselhou Collor a renunciar ao mandato. O resto da história todos já sabem.
Outro fracasso foi a indicação de Michel Temer, vice-presidente da República, como articulador político do governo, após a vitória do deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ) na disputa pela Presidência da Câmara, contra o petista Arlindo Chinaglia (SP), candidato da presidente Dilma Rousseff, que interferiu na eleição e foi derrotada. Temer assumiu em 7 de abril de 2017, após as manifestações ocorridas no mês anterior, quando milhares de pessoas foram às ruas pedir o impeachment de Dilma. As funções da Secretaria de Relações Institucionais passaram à alçada da Vice-Presidência. Temer procurou acalmar os ânimos, porém, quatro meses depois, deixou a articulação, alegando ter sofrido boicote em seu trabalho. Ainda se reuniu com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e lideranças do PMDB, na tentativa de aproximar o partido do governo.
Sede de poder
Dilma fizera uma reforma ministerial em 5 de outubro, cortando oito da 39
pastas e ampliando o espaço do PMDB, que passou de seis para sete ministérios,
incluindo a pasta da Saúde; Ciência, Tecnologia e Inovação; dos Portos;
Agricultura; Minas e Energia; Turismo e Secretaria de Aviação Civil já eram
controlados pelo PMDB. Entretanto, em 2 de dezembro, Eduardo Cunha (PMDB-RJ)
acatou um dos pedidos de abertura do processo de impeachment de Dilma. Dias
depois, Eliseu Padilha deixou o governo e, em seguida, Michael Temer enviou
carta à presidente da República na qual afirmou: “Passei os quatro anos de
governo como vice decorativo… Perdi todo protagonismo político que tivera no
passado e que poderia ter sido usado pelo governo. Só era chamado para resolver
as votações do PMDB e as crises políticas”. O desfecho da crise todos também
conhecem.
O presidente Bolsonaro não vai matar a fome
de elefantes com alface. Tudo bem que o PP seja o antigo PDS, originário da
Arena, o partido do regime militar, mas o Centrão tem outras legendas gulosas.
A repactuação do “sistema de poder” entre os militares, as oligarquias
nordestinas, as igrejas evangélicas e setores empresariais que apoiam o
governo, sobretudo do agronegócio, depende de três variáveis: uma
redistribuição de cargos na Esplanada, principalmente nos ministérios
“capilarizados”; a retomada do crescimento econômico e um horizonte eleitoral
nos estados no qual Bolsonaro consiga resgatar sua expectativa de poder nas
eleições de 2022.
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