O Estado de S. Paulo
É esperado que, quanto maiores os custos de
um presidente no Legislativo, maior seria apoio dos legisladores aos interesses
do presidente no Congresso. Entretanto, como mostrei com Frederico Bertholini
no artigo Pagando o preço de governar: custo de gerência de coalizão no
presidencialismo brasileiro, parece não existir relação entre maiores custos de
governabilidade e apoio legislativo. O estudo mostrou que, em diversos
momentos, mesmo com grande “investimento”, seja pela criação de ministérios,
seja pela execução de emendas ou por maiores desembolsos dos ministérios,
presidentes tiveram pouco apoio legislativo às suas iniciativas. O inverso
também é verdadeiro. Presidentes podem ser bem-sucedidos na aprovação de sua
agenda no Congresso a um custo relativamente muito baixo.
O governo Bolsonaro, ícone do “gastador ineficiente”, seria, portanto, um bom exemplo desse paradoxo. Os custos de governabilidade estão diretamente relacionados às escolhas de como o presidente se relaciona com o Congresso e, especialmente, gerencia sua coalizão. Ao associar presidencialismo de coalizão à corrupção, Bolsonaro rejeitou a necessidade de montar a sua no início do governo, quando teria poder de barganha. Iludiu-se que poderia governar nadando contra a corrente, negligenciando a política tradicional, os partidos e o Legislativo.
Diante de derrotas sucessivas no Parlamento
e riscos crescentes de ver seu mandato abreviado por pedidos de impeachment, o
presidente decidiu se aproximar dos partidos do chamado Centrão. Montou uma
coalizão minoritária em troca de sobrevivência. Entretanto, essa aproximação se
deu em condições de vulnerabilidade, com sua popularidade em baixa. Nessas
condições, Bolsonaro tem poucas ferramentas para evitar que o preço do apoio
legislativo seja inflacionado.
*Professor titular FGV EBAPE e colunista do ‘Estadão’
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