O Estado de S. Paulo
Reações do STF e do TSE podem ser resumidas, ambas, com uma interjeição: “Basta!”.
Investigado em dois inquéritos no Supremo
Tribunal Federal, por acusação de interferência política na Polícia Federal e por
suspeita de prevaricação diante de denúncias de corrupção na compra de vacinas,
o presidente Jair Bolsonaro agora é alvo direto do Tribunal Superior Eleitoral,
e não uma, mas duas vezes. Sem falar da CPI da Covid...
As reações dos presidentes do Supremo, Luiz
Fux, e do TSE, Luís Roberto Barroso, foram diferentes na forma, mas podem ser
resumidas, ambas, com uma interjeição: “Basta!” Basta de ameaças de Bolsonaro a
tudo, a todos e à democracia brasileira. Eles não falaram só por eles, mas
pelas suas instituições e pela defesa da democracia, da República e da
Federação.
Em duas decisões unânimes, o TSE abriu
inquérito administrativo contra Bolsonaro por ameaças seguidas à realização das
eleições e pediu ao Supremo a inclusão dele no inquérito das fake news. Como
prova – essa, sim, real, verdadeira – o TSE anexou o link com o circo armado
pelo presidente contra a urna eletrônica, sem uma, ou meia, ou um cisco de
prova de fraude.
Num discurso contido, mas dando todos os recados a favor da democracia e contra as incontroláveis investidas do presidente da República, Fux disse que o Supremo está atento ao risco de obscurantismo e aos “ataques de inverdades” que, além de atingir “biografias individuais”, são ainda mais graves: “Corroem, sorrateiramente, os valores democráticos”.
Muito mais contundente, Barroso falou do
“retrocesso democrático” em curso no mundo e citou uma lista de países, como
Polônia, Hungria, Turquia, Rússia, Venezuela, Nicarágua e El Salvador. Sem
citar diretamente o Brasil e pessoalmente Jair Bolsonaro, ele destacou que há
uma “receita padrão” nesse rumo às trevas: populismo, extremismo,
autoritarismo.
Como pano de fundo à forte e indignada
reação do Judiciário, está a nova obsessão do presidente, depois de armas,
cloroquina, combate ao isolamento social, às máscaras, às vacinas e ao
ambiente: o ataque insano às urnas eletrônicas, sempre acompanhado de ameaças à
realização das eleições de 2022.
Foi essa nova e crescente obsessão de
Bolsonaro que acionou seus robôs de internet e levou seus seguidores
irracionais às ruas do País no domingo passado, mas Luís Roberto Barroso
preferiu usar seu discurso de reabertura do TSE para se dirigir “às pessoas de
boa-fé”.
Foi a elas, que ouvem, leem, refletem e
tiram suas conclusões com base na realidade e no bom senso, que o presidente do
TSE disse, sem subterfúgios, o que acontecerá se o Brasil voltar atrás duas
décadas para reimplantar o voto impresso, a título de “auditar” a urna
eletrônica: “vamos alimentar o coronelismo, a milícia, aqueles que compram votos”.
Ontem, Barroso assinou com o futuro e todos
os ex-presidentes do TSE (18 ao todo) uma nota destacando que jamais foi
comprovada uma única fraude da urna eletrônica, desde 1996. Já, com o voto
impresso, havia uma avalanche de fraudes grosseiras, de soterrar qualquer
democracia. E, hoje, o que seriam 150 milhões de votos de papel soltos por aí,
pulando de mão em mão, ao sabor de quem paga mais?
Supremo e TSE mostraram seu limite. Falta o
Congresso. A Câmara deve derrubar o voto impresso na quinta-feira e, no Senado,
a CPI da Covid vai levantando histórias, personagens e erros gritantes de um
governo em que o presidente é o maior aliado do coronavírus em todo o mundo,
passível de ser enquadrado em “homicídio comissivo, por omissão”.
Além disso, o Brasil é todo ouvidos para
saber, dos presidentes do Senado e da Câmara, de que lado eles estão. Não está
se falando da divisão entre esquerda e direita, mas, sim, entre democracia e
obscurantismo, realidade e negacionismo, bom senso e ignorância, cidadania
alerta e cegueira cívica. Com a palavra, senador Rodrigo Pacheco e deputado
Arthur Lira!
Já investigado no STF, Bolsonaro vira alvo
do TSE por fake news e ameaça à eleição. Sem falar na CPI...
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