EDITORIAIS
A delicada pauta eleitoral em tramitação no
Congresso
Valor Econômico
O que se espera agora é que o plenário do
Congresso desqualifique de vez o projeto do voto impresso, tão logo quanto
possível
Tramitam atualmente na Câmara dos Deputados
alguns projetos relacionados diretamente à preservação do pleno funcionamento
do estado democrático de direito no país. O primeiro é a proposta de emenda
constitucional que tenta reintroduzir o voto impresso, a qual já recebeu
tratamento adequado da comissão especial criada para analisar o assunto: a
rejeição.
Na noite de quinta-feira, a despeito das
pressões do Palácio do Planalto, o colegiado rejeitou o parecer do deputado
Filipe Barros (PSL-PR) favorável à PEC. Uma derrota contundente, por 23 votos a
11, mas insuficiente para tirar esse tema da pauta em definitivo.
Esta é uma fixação do presidente da República. Tema frequente nas declarações do chefe do Executivo, como se no Brasil todos os cidadãos já estivessem imunizados contra a covid-19 e os efeitos da crise estivessem resolvidos. Sua prioridade tem sido questionar a lisura do processo eleitoral e colocar em xeque o resultado do pleito de 2022, em meio à enxurrada de pesquisas que apontam sua delicada situação - até este momento - na corrida presidencial.
Deve-se destacar, também, que a decisão da
comissão especial teve outro importante aspecto didático para aqueles que
pretendem tumultuar a democracia nacional.
O relatório de Barros ia além da simples
auditagem da eleição. Alterava o modelo de votação, restabelecendo a contagem
manual e feita dentro das salas de votação. Uma receita perfeita para que as
eleições gerais do Brasil, uma das maiores democracias do mundo, estivessem
ainda mais expostas a grupos de pressão e ao crime organizado.
A comissão especial deu nova demonstração
de comprometimento com a causa democrática ainda na sexta-feira, um dia
nacionalmente conhecido como de pouca atividade no Parlamento. Seus integrantes
retomaram as discussões do tema e aprovaram o parecer alternativo, favorável ao
arquivamento da PEC do voto impresso. Desta vez, por 22 votos a 11.
A despeito de ser um evidente retrocesso,
dificilmente o presidente e seus aliados desistirão de levar a ideia adiante. O
que se espera agora, por outro lado, é que o plenário ajude a desqualificá-la
de vez tão logo possível. E isso pode não demorar tanto.
Poucas horas depois do vexame governista, o
presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), convocou a imprensa e
informou que de fato decidira levar a discussão para o plenário da Casa. Para
Lira, a votação por todos os deputados, eleitos de forma legítima pelo atual
sistema e pela urna eletrônica, é o único meio de dar um fim à questão e
dirimir as tensões entre os Poderes.
Caberá a estes mesmos parlamentares
analisar com cautela outras duas matérias, a condenável ideia de se adotar o
chamado “distritão” como sistema de eleição de deputados e o projeto de mudança
do Código Eleitoral que limita a atuação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Neste último caso, o risco é de as prestações de contas das campanhas serem
menos transparentes e as informações disponíveis para o eleitor ficarem mais
restritas.
Já em relação ao “distritão”, sistema
criticado por especialistas e desaprovado mundo afora por eleger simplesmente
os deputados mais votados, desprezando os votos contabilizados aos demais
contendores ou às legendas, os riscos são outros: o enfraquecimento dos
partidos, o favorecimento de celebridades e a perpetuação no poder de políticos
já conhecidos do grande público.
Isso tudo depois de o Congresso aprovar um
inacreditável aumento do fundo eleitoral para 2022, que passará para R$ 5,7
bilhões. Nas eleições de 2018 e de 2020, a verba ficou em torno de R$ 2
bilhões. O presidente Jair Bolsonaro prometeu vetar a expansão bilionária dos
recursos para a campanha do ano que vem, mas ainda não se sabe se terá força ou
real interesse para realizar a empreitada.
A semana passada pelo menos se encerrou com
um alento. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), afirmou em
entrevista à GloboNews que as propostas de implementação do voto impresso e do
“distritão” não têm apoio entre seus pares. Para ele, o país deveria seguir as
regras eleitorais aprovadas em 2017, no âmbito da reforma política, e reclamou
de possíveis mudanças para 2022. Espera-se que essa visão seja majoritária em
ambas as Casas do Congresso.
Um governo investigado
O Estado de S. Paulo
Que tudo seja devidamente investigado. No
Estado Democrático de Direito, não há espaço para ameaças às eleições ou para
exercício do poder fora da lei.
Na campanha eleitoral de 2018, o então
candidato Jair Bolsonaro prometeu uma nova política e uma nova ética pública.
Além de acabar com a corrupção e o mau uso do dinheiro público, o seu governo
iria promover uma rigorosa aplicação da lei. De acordo com o tom das promessas,
a impunidade teria seus dias contados.
Agora, três anos depois, todo esse discurso
soa não apenas muito distante, como ele parece ser a exata antítese do que vem
ocorrendo. Em vez de promover o cumprimento da lei, o governo de Jair Bolsonaro
vê-se envolto em novas suspeitas de desrespeito à lei. A cada dia surgem novas
investigações sobre o comportamento do próprio governo federal.
Em primeiro lugar, há a investigação
promovida pelo Senado, por meio da CPI da Pandemia. Vale ressaltar que a
comissão não investiga um aspecto por assim dizer secundário do governo, como
ocorreu em outras comissões parlamentares de inquérito. A atual CPI investiga
as ações e as omissões do governo federal no enfrentamento do principal desafio
da atualidade. E têm surgido suspeitas de mau uso do dinheiro público na
negociação e compra de vacinas anticovid, precisamente o item mais decisivo
para vencer a pandemia.
As investigações relativas à área da saúde
no âmbito federal não se restringem ao Senado. Por exemplo, a pedido da
Procuradoria-geral da República (PGR), foi aberto um inquérito para investigar
se o presidente Jair Bolsonaro cometeu crime de prevaricação no episódio da
compra da vacina indiana Covaxin.
Mais recentemente, o Tribunal de Contas da
União (TCU) pediu esclarecimentos aos Ministérios da Defesa e da Economia a
respeito do uso de recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) em corriqueiros
gastos militares. Há suspeitas de irregularidades na descentralização de
recursos do Ministério da Saúde, ocorrida no ano passado, envolvendo a execução
de ações de saúde pelo Ministério da Defesa.
Além disso, o poder público precisou abrir
investigações em áreas de especial atuação do bolsonarismo, como a difusão de
fake news ea promoção de atos antidemocráticos. No mínimo, é um tanto estranho.
Aquele que prometeu um rigoroso cumprimento da lei tem seguidores que demandam
continuamente a atuação dos órgãos de investigação.
E não são seguidores distantes. Num dos inquéritos
no Supremo Tribunal Federal (STF), os três filhos mais velhos do presidente –
Flávio, Carlos e Eduardo – são mencionados na condição de arrolados pela
Polícia Federal como possíveis integrantes de organização criminosa destinada a
atacar a democracia.
De toda forma, o mais estranho –
absurdamente contraditório – é que o próprio Jair Bolsonaro assumiu como sua
prioridade uma campanha que é rigorosamente ilegal. De forma contínua e
insistente, o presidente Bolsonaro tem desautorizado o sistema de votação
vigente, difundindo inverdades e propagando desconfiança sobre o elemento
central de um regime democrático – o respeito à vontade do eleitor manifestada
nas urnas.
Tal é a situação que o Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) se viu obrigado a agir. Por unanimidade, o tribunal decidiu
abrir um inquérito administrativo envolvendo o presidente Jair Bolsonaro, em
razão de suas declarações infundadas de fraude no sistema eletrônico de votação
e de suas ameaças às eleições de 2022.
Além disso, a partir de uma notícia-crime
enviada pelo TSE, o STF incluiu Jair Bolsonaro como investigado no inquérito
das fake news. Também chegaram ao Supremo pedidos para que o ministro da
Defesa, Walter Braga Netto, seja investigado a respeito de ameaça feita no mês
passado contra as eleições de 2022.
Como se pode ver, as investigações não são
casos isolados, tampouco afetam integrantes menos importantes do governo. É o
próprio Jair Bolsonaro e o grupo mais íntimo do governo que reclamam a atenção
dos órgãos de apuração e investigação, em temas especialmente caros ao
bolsonarismo. Que tudo seja devidamente investigado. No Estado Democrático de
Direito, não há espaço para ameaça às eleições ou para exercício do poder fora
da lei.
Muito mais toma lá do que dá cá
O Estado de S. Paulo
A esta altura já está claro, para quem não
costuma brigar com a realidade, que a tal “nova política” que Jair Bolsonaro
vendeu durante a campanha eleitoral como a lufada de ar fresco que traria para
a relação entre a Presidência da República e o Congresso Nacional não passava
de engodo. O curioso, porém, é que não só Bolsonaro abraçou com força o velho
clientelismo que falsamente atacava, como conseguiu a proeza de ser o
presidente que mais sofreu reveses com este arranjo.
Levantamento feito pelo Estado revelou que
Bolsonaro, a despeito de ter liberado até agora R$ 41,1 bilhões em emendas, só
conseguiu aprovar 83 propostas legislativas de iniciativa do Poder Executivo –
entre as quais projetos de lei, medidas provisórias e propostas de emenda à Constituição.
Isto corresponde a um projeto de interesse do governo aprovado pelo Congresso a
cada 11,3 dias. Até a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que não se notabilizou
por sua habilidade na relação com os parlamentares, conseguiu ser ligeiramente
mais produtiva do que Bolsonaro em seu segundo mandato, marcado pelo
impeachment: conseguiu aprovar um projeto a cada 11,2 dias. Já o ex-presidente
Michel Temer (MDB), ao contrário de Dilma e de Bolsonaro, um exímio negociador,
aprovou um projeto de seu governo a cada 9,6 dias.
Embora não se possa estabelecer uma relação
direta entre a aprovação de determinado projeto e a liberação de recursos do
Orçamento pelo Palácio do Planalto para os parlamentares, apenas para efeitos
comparativos, Bolsonaro precisou liberar, em média, R$ 495,2 milhões a cada
projeto de seu governo aprovado pelo Congresso. O valor representa mais do que
o dobro do que foi liberado pelo segundo colocado neste ranking de custo por
projeto, o ex-presidente Temer (R$ 192 milhões). Já o custo por projeto para o
ex-presidente Lula da Silva foi de R$ 70,3 milhões (primeiro mandato) e R$ 85,7
milhões (segundo mandato); e para a ex-presidente Dilma Rousseff, R$ 73,7
milhões (primeiro mandato) e R$ 121,3 milhões (segundo mandato).
Esta comparação do custo por projeto entre
diferentes governos, naturalmente, tem suas limitações, como ponderou a
cientista política e especialista em política legislativa Beatriz Rey. No
entanto, este critério de análise “dá indícios de como o processo político de
cada governo se desenrolou” no que concerne à relação com o Poder Legislativo.
“Do ponto de vista da produção legislativa, (o governo Bolsonaro) é o governo
mais fraco de que se tem notícia”, disse Sérgio Praça, cientista político da
Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Há duas razões, basicamente, para esta
pitoresca relação de Bolsonaro com o Parlamento,
em que, por um lado, há o maior montante já
liberado pelo Executivo em emendas por projeto desde 2003 e, por outro, o menor
índice de aprovação congressual de projetos de interesse do governo. Em
primeiro lugar, Bolsonaro não tem, nem nunca teve, um plano de governo
propriamente dito. O presidente é incapaz de pensar sobre os problemas do
Brasil e sobre as reais necessidades de seu povo para, a partir deste
diagnóstico, propor soluções que se traduzam em projetos que façam sentido como
um arcabouço legislativo concatenado. A rigor, a própria capacidade de
diagnóstico de Bolsonaro é bastante limitada, para dizer o mínimo, haja vista
que muitos dos projetos que o presidente encaminha ao Legislativo não guardam
qualquer relação com questões prementes para a maioria da população brasileira.
Isto também ajuda a explicar por que são rejeitados no Parlamento, locus mais
neutro, menos afeito à polarização extremada que grassa em outros ambientes.
Em segundo lugar, Bolsonaro é um presidente
fraco. E a história ensina que, quanto mais fraco um presidente da República,
mais cara é a sua sustentação política. Portanto, Bolsonaro paga para evitar
aborrecimentos no Congresso e para poder continuar a fazer livremente o que faz
melhor: instilar o clima de baderna no País.
Mas não se pode perder de vista que só há
quem pague porque há quem se venda. E a Nação só perde com este trato
antirrepublicano.
Bolsonaro é líder em liberar emendas, mas é
o que menos aprovou projetos do governo
Uma batalha contra a educação
O Estado de S. Paulo
Bolsonaro vetou a vontade do Legislativo,
deixando professores e alunos sem internet.
Notada desde o início do mandato, a omissão
do governo de Jair Bolsonaro na área educativa ficou em especial evidência
durante a pandemia. Em obediência ao negacionismo do presidente da República, o
Ministério da Educação não assumiu o papel que lhe cabia de coordenar com
Estados e municípios as ações para minimizar o impacto da covid-19 sobre o
aprendizado dos alunos.
Não bastasse sua omissão, o governo federal
vem atuando de forma reiterada contra a educação em relação à verba para o
acesso à internet de professores e alunos da rede pública. Poucas vezes viu-se
tamanho empenho de um governante em dificultar os meios para a educação de
crianças e adolescentes como o que se tem observado na batalha de Jair
Bolsonaro contra a Lei 14.172/2021, que dispõe sobre a assistência da União aos
Estados para a garantia de acesso à internet, com fins educacionais, pelos
alunos e professores da educação básica pública.
Em fevereiro, o Congresso aprovou o Projeto
de Lei (PL) 3.477/2020, destinando R$ 3,5 bilhões aos Estados, a serem
aplicados em “ações para a garantia do acesso à internet, com fins
educacionais, aos alunos e aos professores da rede pública de ensino dos
Estados, do Distrito Federal e dos municípios, em virtude da calamidade pública
decorrente da covid-19”.
Em seguida, o presidente Jair Bolsonaro
vetou integralmente o PL 3.477/2020. Na mensagem de veto, o Executivo federal
alegou que o projeto de lei destinando R$ 3,5 bilhões para ações de acesso à
internet na rede pública de ensino não apresentou “estimativa do respectivo
impacto orçamentário e financeiro”.
O Congresso derrubou o veto presidencial.
Na ocasião, foi lembrado que o PL 3.477/2020 – depois, Lei 14.172/2021 – previu
as fontes de recursos para o programa: o Fundo de Universalização dos Serviços
de Telecomunicações (Fust) e o saldo correspondente a metas não cumpridas dos
planos gerais de universalização do serviço telefônico fixo. Na Câmara, foram
419 votos pela derrubada do veto e 14 pela manutenção. No Senado, foram 69
votos favoráveis à derrubada e nenhum contrário.
Ao assegurar receitas para um tema
fundamental nos tempos atuais – é essencial que alunos e professores disponham
de acesso à internet –, a Lei 14.172/2021 fez cumprir a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDBEN, Lei 9.394/1996). Ao tratar da organização da
educação nacional, a LDBEN determina que “a União, os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios organizarão, em regime de colaboração, os respectivos
sistemas de ensino”. O regime de colaboração é, portanto, uma exigência legal.
A Lei 9.394/1996 também dispõe que uma das
atribuições da União é “prestar assistência técnica e financeira aos Estados,
ao Distrito Federal e aos municípios para o desenvolvimento de seus sistemas de
ensino e o atendimento prioritário à escolaridade obrigatória, exercendo sua
função redistributiva e supletiva”.
Não obstante, o governo federal questionou
no Supremo Tribunal Federal (STF) a constitucionalidade da Lei 14.172/2021,
requerendo, em caráter liminar, a sua suspensão. O presidente do STF, ministro
Luiz Fux, não suspendeu a lei, apenas estendeu por 25 dias o prazo para a
remessa dos R$ 3,5 bilhões aos Estados – originalmente, o prazo era de 30 dias
após a publicação da lei.
Insatisfeito com a decisão liminar do
presidente do Supremo, o governo federal editou, no dia 4 de agosto, a Medida
Provisória (MP) 1.060/2021, excluindo qualquer prazo para que a União faça a
remessa da verba de R$ 3,5 bilhões aos Estados. Na redação dada pela medida
provisória, caberá ao Poder Executivo federal determinar a data e a forma do
repasse de recursos.
Eis uma história que retrata não apenas a
batalha de Jair Bolsonaro contra a educação, mas como o governo federal se
relaciona com o Congresso. Derrubado o veto à Lei 14.172/2021 e sem ter a
pretendida liminar do Supremo, o presidente Bolsonaro valeu-se de uma MP para
barrar a vontade do Legislativo, deixando professores e alunos sem internet.
Bolsonaro barrou a vontade do Legislativo, deixando professores e alunos sem internet
Foi bom
Folha de S. Paulo
Nos Jogos Olímpicos, Brasil avança em
medalhas, e Tóquio não sucumbe à pandemia
É moderadamente positivo o saldo dos Jogos
Olímpicos de Tóquio, tanto para o Brasil em particular quanto para o evento
como um todo.
A delegação brasileira estabeleceu um
novo recorde de medalhas, 21, superando em duas a marca estabelecida em
casa, na Rio-2016, e conquistou sete ouros, o mesmo de cinco anos atrás.
Importante notar que esse aumento no número de pódios acompanha o crescimento
de 11% do número de medalhas em disputa.
Existe aí um feito raro. Até então, apenas
um país-sede de Jogos, a Grã Bretanha, havia conseguido mais medalhas na edição
seguinte do que no evento em seu território.
Em relação à posição no quadro geral, o
Brasil avançou uma colocação, de 13⁰ para 12⁰, tanto no número de ouros quanto
no de pódios. O país se manteve em um pelotão que duas décadas atrás figurava
distante. Para o futuro, continua o desafio de ingressar no grupo dos dez primeiros,
meta que havia sido estabelecida na Rio-2016.
Tal resultado não se obteve sem
investimento, notadamente de fonte pública. O gasto com bolsas a atletas, para
usar um exemplo direto, subiu 36% em termos reais do início para o fim da
década passada, chegando a R$ 112 milhões em 2020. Isso num período em que as
despesas discricionárias do governo federal caíram 31%.
O desembolso público total no último ciclo
olímpico foi de R$ 2,9 bilhões, segundo levantamento da Universidade de
Brasília. Montante inferior ao período anterior aos Jogos realizados no Brasil,
como seria natural, mas superior ao que antecedeu Londres-2012.
Para o esporte brasileiro, o objetivo agora
deve ser evoluir sem aumentar a dependência que mantém em relação ao setor
público. Com perspectivas orçamentárias nada animadoras para o governo,
diversificar as fontes de financiamento, atraindo mais atenção do setor
privado, será crucial para a evolução olímpica do país.
Do ponto de vista da organização dos Jogos,
ficará registrada uma edição em condições inauditas, decorrência da pandemia
que já levara ao adiamento de um ano.
A mudança de maior impacto foi a ausência
de público na maior parte dos eventos. Levar adiante a empreitada envolvia
evidente risco sanitário; pelo que se sabe até o momento, os organizadores
foram bem-sucedidos nesse quesito.
O Comitê Olímpico Internacional mostrou
ainda capacidade de renovar a competição, incluindo esportes de apelo a público
mais jovem, como o skate e o surfe.
No meio de uma crise global de saúde que já
matou mais de 4 milhões de pessoas, Tóquio deixa um legado de esperança ao
demonstrar que alguma normalidade começa a ser viável. Não é pouca coisa.
Estímulo à vacina
Folha de S. Paulo
Em outros países, governos e empresas
acertam ao fixar exigências de imunização
Como é consenso entre autoridades
sanitárias e já se observa em países que avançaram na imunização de suas
populações, a vacina é o mais valioso trunfo para combater a pandemia de
Covid-19.
Ainda há, todavia, obstáculos a superar,
como a oferta insuficiente de doses na maioria das regiões e o surgimento de
mutações do vírus que ameaçam os esforços para deter a doença. É o caso atual
da disseminação da variante delta.
Lamentavelmente, essa nova manifestação do
Sars-CoV-2 tem encontrado aliados entre pessoas que se recusam a tomar os
imunizantes em nome de convicções pessoais e de um alegado direito à liberdade
individual que se traduz, na prática, em risco à saúde coletiva.
O fenômeno, que não é novo, revela-se
preocupante em países que dispõem de imunizantes e já caminham para a plena
suspensão de restrições sociais e econômicas.
Diante do impasse, governos
nacionais e regionais têm buscado formas de estimular a vacinação. A cidade
de Nova York, por exemplo, anunciou que a entrada em bares, restaurantes,
academias e outros estabelecimentos passa a ser condicionada à prova de
imunização.
Não é um caso isolado. Outros países, com
variações, seguem na mesma trilha. A França já havia tomado a providência de
maior amplitude, acrescentando a exigência para o uso de transporte público e
de locais abertos, como parques de diversão e festivais de música.
Os resultados foram animadores: antes mesmo
da aprovação da norma pelo Parlamento, 1,7 milhão de franceses (ou 2,5% da
população) decidiu, em menos de 24 horas, agendar a vacinação.
Nos EUA, também o governo federal passou a
exigir imunização de seus funcionários, e empresas privadas, como Google,
Facebook, Disney e Walmart, além de algumas universidades, adotaram o mesmo
procedimento.
No Brasil, felizmente, é ampla a adesão ao
uso do imunizante, em que pese a insistência negacionista do presidente Jair
Bolsonaro.
Pesquisa Datafolha de julho mostrou que 94%
dos brasileiros pretendem se vacinar —em contraste com o que se verifica nos
EUA, onde levantamento do Pew Research Center de fevereiro mostrava que 30% dos
americanos não tinham intenção de tomar a vacina.
Tal disposição indica que por aqui não será
tão relevante o debate em torno da obrigatoriedade, mesmo que uma minoria
obscurantista ainda tente politizar o tema.
Nenhum comentário:
Postar um comentário