Folha de S. Paulo
Se reação do TSE e STF aos desvarios do
presidente não o demover da aventura autoritária, talvez demova oportunistas
mais cautelosos
Há tempos o presidente Bolsonaro vem
atravessando o que ele chama de “quatro
linhas da Constituição” para cometer crimes de responsabilidade;
crimes pelos quais já deveria ter sofrido processo de impeachment. Até agora,
cooptando parlamentares com cargos e verbas, tem conseguido se blindar.
Contudo, sua insana reincidência criminosa vai tornando toda blindagem
precária.
Na live anunciada com estardalhaço e feita
para provar fraude em eleições com urna eletrônica, Bolsonaro não
provou nada; mas fez da questão do voto impresso mais uma bandeira
manipulada para fomentar mobilização fanática capaz de sustentar uma aventura
autoritária personalista.
Muitos entendem que a adoção do voto impresso é um atraso, retrocesso; outros entendem que é um avanço para a transparência das eleições. Quem tem poderes para decidir a questão é o Congresso; a ameaça de que não haverá eleições em 2022 se não for adotado o sistema do gosto do presidente da República é, pois, antes de tudo, uma afronta ao Poder Legislativo.
Arthur Lira e parlamentares do centrão,
aliados circunstanciais de Bolsonaro, talvez estejam revendo o cálculo de
vantagens, pois a guerra do bolsonarismo visa à liquidação ou sujeição não
apenas do TSE e do STF, mas de todas as instituições democráticas.
Sobre o propósito autoritário de Bolsonaro
já é passado o tempo das especulações. Suas falas sobre isso são abertas e
enfáticas, como nesta tosca declaração: “meu jogo é dentro das quatro linhas,
mas se sair das quatro linhas, sou obrigado a sair das quatro linhas”.
Bolsonaro acha que é simples agir fora das
“quatro linhas da Constituição”. Não é, embora, às vezes, devido à tibieza de
uns e venalidade de outros, assim lhe possa parecer.
Se a dura reação do TSE e do STF aos seus
desvarios de poder personalista não o demover da aventura autoritária em curso,
talvez demova, ao menos, os oportunistas mais cautelosos. Com Bolsonaro restará
apenas sua seita de radicais.
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