O Globo / O Estado de S. Paulo
Numa manhã desta semana, peguei emprestado
um iPhone 12 Pro Max, dentre os melhores celulares no mercado. Pus ao lado do
meu aparelho, da versão anterior. Ambos lado a lado. De cara, a diferença na
tela era uma só. No canto superior direito de um, 4G. No do outro, 5G. Disparei
então, simultaneamente, um teste de velocidade. Meu aparelho, de que não tenho reclamações,
encostou em 20Mbps. É uma velocidade que muita banda larga fixa não tem. Com
bem menos disso já dá para ver um filme por streaming. No aparelho indicando
5G, passou de 150Mbps. Para padrões brasileiros, mesmo para máquinas conectadas
à fibra óptica, isso é voar baixo. Em alguns cantos do país tem gente
conseguindo passar dos 500Mbps no 5G.
Mas o ministro das Comunicações, Fábio Faria, quer proibir as operadoras de dizer que já começaram a oferecer a nova geração da telefonia celular em alguns lugares. Num vídeo que fez circular, sugere que é propaganda enganosa. Uma de suas cobranças é que tirem, dos aparelhos habilitados para a nova tecnologia, o indicativo “5G”.
O número de problemas nos argumentos usados
por Faria não é pequeno. O primeiro, e talvez mais importante, é que a
diferença na velocidade oferecida pelos serviços 4G e 5G é brutal. Sugerir que
há enganação é desonesto. Velocidade de celular oscila, sim, depende de quantos
aparelhos há na região, de obstáculos físicos, de inúmeros fatores. Mas a
escala da distância entre uma geração e a outra é imensa.
O segundo problema está na definição do que
é 5G. O termo é técnico, estabelecido por um consórcio internacional. Não é o
ministério, a Anatel ou uma companhia telefônica que decide o que pode chamar
de 5G. Se corresponde ao novo protocolo, então é.
Evidentemente, o governo Bolsonaro escolheu
adiar por quase dois anos o leilão das faixas de frequência do 5G, e as
operadoras ainda não podem ampliar seus serviços. Mas, como em todo canto do
mundo, elas podem instalar o que se chama 5G DSS. É a nova tecnologia
convivendo nas mesmas faixas do 4G. Quem tem celular mais antigo usará como
antes. Quem tem os aparelhos novos — a Anatel já homologou 29 modelos 5G no
país — terá 5G. Quando as novas frequências puderem ser usadas, a velocidade
saltará para níveis que nem na banda larga fixa encontramos. Se não temos isso
ainda, de novo, é porque o governo decidiu atrasar tudo para bajular Donald
Trump numa briga inútil contra a chinesa Huawei.
Outro problema está no pedido de “retirar”
o indicador 5G dos aparelhos. Porque nenhuma operadora tem esse poder. É o
software em aparelhos da Apple, Samsung, Motorola, ou seja que marca for, que
identifica o protocolo que está recebendo. De novo: a especificação é técnica e
internacional. A única forma de as operadoras retirarem o indicador é negando a
seus clientes o serviço.
O que faz zero sentido.
Evidentemente, o problema do ministro das
Comunicações é outro. Fábio Faria foi para o governo na eterna esperança do
Centrão de que conseguiria moderar Bolsonaro. Se tentou, não conseguiu.
Tornou-se, isto sim, um bolsonarista radical. Tem um ministério na mão e quer
usá-lo para impulsionar sua carreira política. É assim mesmo, faz parte de ser
político. Para isso, precisa mostrar ter feito algo enquanto ocupou a posição.
E aí está o pulo do gato: Faria quer fazer barulho no momento do leilão. Quer
dizer que foi quem trouxe 5G para o Brasil.
Só que tanto o governo demorou, tanto o
governo segurou, tanto hesitou, que as companhias fizeram o que têm de fazer, e
tudo com autorização da Anatel. Já puseram o produto na rua e estão vendendo.
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