O Globo
Depois de dois anos e dois meses, a Câmara
enfim cassou o mandato da deputada Flordelis, do PSD. A pastora é acusada de encomendar
a morte do marido, o também pastor Anderson do Carmo. Escapou da prisão
preventiva graças à imunidade parlamentar.
Como esperado, o plenário aprovou a cassação por ampla maioria: 437 a 7.
A única surpresa foi o voto contrário de um deputado do PSOL, Glauber Braga.
Até o início da semana, ele se dizia pré-candidato ao Planalto. Depois desse
episódio, arrisca se complicar até numa eleição para síndico.
Glauber nunca foi um aliado de Flordelis.
Na sessão de quarta, fez questão de dizer que considerava sua linha política
“sofrível”. Ainda assim, o deputado endossou a tese da defesa. Disse que a
pastora deveria ser suspensa, e não cassada, até o veredicto do tribunal do
júri.
A argumentação contém um erro primário: confunde o julgamento criminal, feito pela Justiça, com o julgamento político, feito pela Câmara. Não cabe aos congressistas decidir se a colega mandou ou não mandou matar o marido. O que se discute ali é se houve quebra de decoro parlamentar.
O relator Alexandre Leite, do DEM,
sustentou que houve. Ele concluiu que Flordelis usou o prestígio do cargo para
ocultar provas e coagir testemunha. A pastora ainda foi acusada de mentir ao
Conselho de Ética sobre a compra da arma do crime. Seu marido foi executado com
30 tiros à queima-roupa.
Glauber alegou que seria incoerência
defender a agenda antipunitivista e apoiar a cassação de uma colega que ainda
não foi condenada. “É o que geraria menos desgaste? Com certeza. Eu me sentiria
bem? Não”, escreveu. A argumentação convenceu pouca gente, inclusive no partido
dele.
Para um aliado, o deputado “se perdeu no
personagem”. Para outro, derrapou no “principismo”. No jargão político, isso
significa que ele exagerou na defesa de um princípio abstrato, desconectando-se
da realidade.
A internet abriu novas formas de
participação popular, mas também incentivou a radicalização de militantes e
políticos. Muitos se tornaram reféns de bolhas virtuais, afastando-se da razão
e do sentimento da sociedade. Em sua cruzada contra os direitos humanos, o
bolsonarismo costuma acusar a esquerda de “defender bandidos”. Com seu voto
infeliz, Glauber pode reforçar essa pecha.
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