O Globo
Há inúmeras razões que ajudam a explicar os
cada vez mais frequentes desatinos de Bolsonaro — a própria índole, o
comportamento dos filhos, a variante Delta, o desemprego, a inflação, a crise
hídrica, a CPI da Covid, cujo relatório final não deixará de responsabilizá-lo,
e, enfim, os 160 processos em que a AGU tem como tarefa defendê-lo.
Isso sem falar na série de derrotas, como a do voto impresso, a prisão de Roberto Jefferson, a operação contra aliados, determinada pela Procuradoria-Geral da República, as seis multas por não usar máscara, os incômodos aliados, como o indescritível Sérgio Reis, e principalmente sua inclusão como investigado no inquérito das fake news, que tramita no STF e tem como relator o ministro Alexandre de Moraes. O objetivo, como se sabe, é apurar se Bolsonaro cometeu crime ao alegar ter indícios fortes de fraudes nas eleições de 2018 — e não apresentá-los.
Porém o que mais deve estar lhe tirando o
sono é a incessante perda de popularidade, ameaçando sua pretendida reeleição.
Segundo pesquisa XP/Ipespe, num dos cenários Lula teria hoje 40% das intenções
de voto ante 24% de Bolsonaro, levando, portanto, a vantagem a saltar de 12
para 16 pontos percentuais. Também as avaliações negativas do atual governo
aumentaram de 52% para 54%. Em outubro de 2020, não passavam de 31% os que
consideravam a gestão do presidente ruim ou péssima.
Mesmo levando em conta o cenário atual, que
pode ser atenuado por uma ajuda emergencial que já mostrou resultados
positivos, a perspectiva não foi suficiente para acalmar o presidente. Não
impediu a ação destemperada contra o ministro Alexandre de Moraes,
desaconselhada por seus assessores, que provocou uma onda de indignação,
iniciada com uma nota do STF repudiando o pedido de impeachment.
Logo em seguida, vieram os protestos do
STJ, das associações dos magistrados e dos juízes federais, além de um grupo de
dez ex-ministros da Justiça e da Defesa e das notas de dez partidos. Também
Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, que deve julgar a ação, declarou não
“antever critérios jurídicos e políticos” para aprová-la. Quer dizer, não deve
dar em nada.
Não faz muito tempo, almas de boa vontade chegaram
a acreditar num milagre da transformação. Se Jesus foi capaz de fazer água
virar vinho, achavam que, com esse nome, Jair Messias, que fala de Deus como se
fossem íntimos, poderia virar o Bolsonaro paz e amor, esquecendo que ele é como
os talibãs e os escorpiões —da mesma natureza, não mudam, têm o mesmo DNA.
Como Moraes será o presidente do Tribunal
Superior Eleitoral por ocasião das eleições de 2022, restará a Bolsonaro usar a
coincidência para reforçar a teoria conspiratória segundo a qual o ministro, ao
lado das urnas eletrônicas, atuará para impedir sua reeleição.
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Em meio a estes tempos distópicos, uma rara imagem alvissareira: Marieta Severo exibindo seus novos cabelos brancos e, debaixo deles, uma invejável lucidez.
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