O Globo
O afastamento do coronel da Polícia Militar
de São Paulo Aleksander Lacerda, que chefiava o Comando de Policiamento do
Interior-7, em Sorocaba, por fazer ofensas pesadas a ministros do Supremo
Tribunal Federal (STF) e ao governador de São Paulo, João Doria, e que convocou
pelo Facebook seus seguidores para as manifestações de 7 de setembro, foi uma
ação acertada, ao mesmo tempo exemplar e prenunciadora de problemas que estão
por vir.
A atitude do Comando-Geral da PM de São Paulo é importante para controlar a
tentativa de avanço bolsonarista nas polícias militares, que ocorre em vários
estados, e reforça o caráter legalista e de respeito à Constituição da
corporação. Bolsonaro alimentava, antes mesmo de ser eleito, essa subversão nas
forças militares auxiliares, na tentativa de ter uma força armada para apoiar
um golpe ou uma rebelião.
Não foi outra, também, a intenção dele ao liberar o porte de armas,
proporcionando que em 2020 fossem registradas 180 mil novas armas de fogo na
Polícia Federal, um aumento de 90% em relação ao ano anterior. As manifestações
de seguidores quando era candidato, nos aeroportos por todo o país, imagens que
viralizavam revelando uma força inaudita de sua campanha, eram organizadas por
militares da reserva e da ativa, especialmente policiais militares.
Não se imaginava na época, mas desde então esses “organizadores” andavam
armados, especialmente depois do atentado que Bolsonaro sofreu em Juiz de Fora.
Ao anunciar que estará presente e discursará em Brasília e São Paulo, nas
manifestações marcadas para o Dia da Independência, o presidente as endossa,
apesar de estarem sendo convocadas a favor do fechamento do Supremo, contra
ministros específicos, como Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, e
também contra o Congresso, que acabou com a pantomima da emenda constitucional
a favor do voto impresso. Portanto são manifestações antidemocráticas.
Não foi a pessoa física de Jair Bolsonaro que entrou com um pedido de impeachment contra ministro do Supremo, nem será ela que estará presente na Avenida Paulista, mas sim o presidente da República, não sendo aceitável que isso aconteça sem uma resposta institucional à altura. Caso se confirme essa “ameaça”, a situação será muito grave, e as forças democráticas precisam se unir contra isso.
Além dos muitos crimes de responsabilidade que Bolsonaro vem cometendo desde o início de seu governo, esse, a ser cometido no Dia da Independência, será talvez o mais inegável, e o mais grave, pois repetição de atos anteriores, de apoio a manifestações antidemocráticas que aconteceram em Brasília, inclusive na frente do quartel do Comando-Geral do Exército, rejeitados na ocasião, mas não punidos.
Essas manifestações, aliás, são investigadas há muito pelo Supremo Tribunal Federal, e foi com base nelas que seguidores bolsonaristas radicalizados, como o presidente do PTB, Roberto Jefferson, foram presos recentemente, por ordem do ministro Alexandre de Moraes, responsável pelos inquéritos. Não é por outra razão que Bolsonaro está mirando-o preferencialmente, para dar satisfação a seus aloprados.
No Brasil todo, o presidente alimenta o bolsonarismo entre os policiais militares, comparecendo, desde o início do mandato, a formaturas de PMs com a intenção de infiltrar seus pensamentos nas forças militares auxiliares, que atuam em coordenação com o Exército nos estados.
O serviço de inteligência da Polícia Civil de São Paulo detectou movimento de incentivo a que os seguidores de Bolsonaro compareçam às manifestações armados, alegadamente para reagir a alguma agressão. Sabidamente, é provável que militantes infiltrados incentivem atos de violência para justificar arruaças. Tivemos em tempos recentes a presença de black blocs em passeatas. A democracia terá problemas se a Polícia Militar for contaminada por essa tentativa golpista do presidente. As Forças Armadas terão de enfrentar essa situação.
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