Valor Econômico
União de partidos indica projeto para
evitar decadência
Duas premissas da fusão entre o PSL e o DEM
são de que eles formarão um megapartido e que a agremiação terá um projeto
independente, de terceira via, na eleição presidencial do ano que vem. Nem um
nem outro resultado é garantido.
Em termo quantitativo, o primeiro ponto a
se considerar é que a nova legenda perderá a ala mais radical de deputados
ligados a Jair Bolsonaro. Espera-se que cerca de 25 parlamentares do PSL, na
Câmara, rumem para a sigla que o presidente escolher.
A debandada dos “bolsonaristas roxos” praticamente anula o peso com que a bancada de 28 deputados do DEM contribui para a formação da legenda. Entre esses parlamentares, no entanto, também há expectativa de saídas. Como no Rio, onde o DEM é controlado pelo deputado Sóstenes Cavalcante, ligado ao pastor Silas Malafaia, outro ultrabolsonarista, ambos insatisfeitos com a perda da máquina partidária e a suposta independência que a sigla terá em relação ao governo federal.
Dois deputados licenciados do DEM, ministros
de Bolsonaro, também estariam prontos a deixar a legenda. Para Onyx Lorenzoni
(Trabalho e Previdência), a fusão reserva o comando do diretório gaúcho, mas
sua permanência é incerta. A tendência é que siga Bolsonaro, de olho no apoio
dele a seu projeto para governador.
O mesmo ocorre com Teresa Cristina
(Agricultura), pré-candidata ao governo do Mato Grosso do Sul. A parlamentar
deve migrar para o PP e arrastar dois deputados estaduais do DEM. No Estado, a
senadora do PSL Soraya Thronicke, também pré-candidata ao governo, disputa o
comando da nova agremiação com o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta
(DEM), um dos três presidenciáveis que emergem das fileiras da fusão.
O fato é que ao partir para o ataque, numa
aparente demonstração de força, a junção entre DEM e PSL receberá o
contra-ataque, num mercado competitivo. Arrisca a ter não mais que a dimensão
atual do PSL na Câmara, com 54 deputados, ombreando o PT, e praticamente o
mesmo que o DEM no Senado, onde os seis parlamentares da legenda se somam à
Soraya, única do PSL, numa bancada de sete, igual à do PSDB e PP, e atrás de
Podemos (nove) PSD (11) e MDB (15).
Na Câmara, relevante por ser o principal
critério de distribuição de recursos e tempo de TV, a perspectiva de
ultrapassar os petistas é menos provável quando se sabe que o partido de
esquerda terá o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, atual favorito ao
Planalto, a impulsionar candidatos aos Legislativos federal e estaduais. Mesmo
em seu pior momento, com a guinada do eleitorado à direita e a erupção do
bolsonarismo, o PT elegeu a maior bancada em 2018, feito obtido também em 2014,
2010 e 2002. Em 2006, foi a segunda, atrás do PMDB.
Não é de se desconsiderar a fragilidade que
motiva DEM e PSL à fusão. Antes uma potência, o DEM, ainda como PFL, emplacou a
maior bancada federal em 1998, com 105 deputados. Desde então, com a crescente
fragmentação do sistema partidário e o longo jejum fora do poder, nos governos do
PT, a legenda minguou. Mas até o governismo atual, como mostram os casos de
Onyx e Teresa Cristina, pode fazer com que eventuais frutos sejam colhidos em
outra freguesia.
Depois do baque de 2011, com a enorme
debandada liderada pelo ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, fundador do
PSD, o DEM chegou ao fundo do poço e elegeu apenas a nona maior bancada, com 21
deputados, em 2014. Em 2018, houve um leve crescimento absoluto, para 29, mas
que não alterou a posição relativa, perdendo para siglas emergentes como
Republicanos (30), PSD (35) e o próprio PSL (52).
O ex-partido nanico - que elegeu apenas um
deputado em 2014 - foi catapultado pela vitória de Bolsonaro mas agora, sem o
presidente para turbinar as disputas proporcionais, teme encolher novamente, mesmo
que tenha o maior volume de recursos do fundo eleitoral e tempo de propaganda
na TV.
De tão fácil, para negociações complexas e
que quase sempre terminam frustradas, a fusão de DEM e PSL parece indicar a
aflição de dois namorados que decidem se casar para dividir custos, aluguel, e
não cair mais de padrão de vida. É, por assim dizer, uma decisão de ordem
econômica, ainda que facilitada por afinidades ideológicas e pela legislação
eleitoral.
A minirreforma de 2017 aboliu as coligações
proporcionais, num incentivo ao enxugamento do quadro partidário mas, na
segunda-feira, pequenas siglas com sobrevivência ainda mais ameaçada que DEM e
PSL comemoraram a decisão do Congresso de derrubar veto presidencial e aprovar
as federações partidárias. A novidade permitirá que legendas coliguem-se nas
eleições, desde que permaneçam unidas nos quatro anos de mandato.
A segunda premissa da fusão, que vai se
revelando em xeque, é a intenção de ser plataforma para um único candidato da
terceira via e de manter distanciamento em relação a Bolsonaro. Além de
Mandetta, há entre seus quadros dois presidenciáveis: o apresentador de TV José
Luiz Datena (PSL) e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), cuja
tendência, contudo, é se filiar ao PSD de Kassab.
A falta de competitividade no plano
nacional e os variados interesses regionais podem contribuir para que a alegada
pretensão executiva de PSL-DEM converta a legenda em mais uma sigla de vocação
parlamentar, como tantas outras existentes.
Presidente nacional do PSL, posição que
manterá na nova comissão executiva, o deputado Luciano Bivar é refratário à
influência do Planalto, devido à briga com Bolsonaro, que quis lhe tomar o
partido. ACM Neto, presidente do DEM e futuro secretário-geral, já defende
abertamente a liberação de diretórios estaduais e municipais para apoio a
outros candidatos, incluindo Bolsonaro, mesmo que o partido lance um nome à
Presidência em 2022.
Nenhum comentário:
Postar um comentário