O Estado de S. Paulo
Expoente da direita estúpida ajudou a tornar Lula elegível por prever que o derrotará
Em 8 de abril de 2020, Jair Bolsonaro
traçou, em cadeia de rádio e TV, as linhas gerais de sua conduta no comando do
combate à pandemia da covid-19: receitou cloroquina ineficaz, pregou reabertura
do comércio, condenou o uso de máscaras, inculpou prefeitos e governadores por
medidas de restrição à circulação de pessoas como forma de evitar o contágio da
doença e ainda citou o que o diretor da Organização Mundial da Saúde, de fato,
não disse.
Em 18 meses de guerra da Pátria, que ele nunca provou amar, contra o contágio do vírus, chegando perto de 600 mil baixas, muitas delas que poderiam ter sido evitadas, presidiu o populismo contra o povo. Daí 53% dos entrevistados pelo Ipec terem achado sua gestão “ruim ou péssima”. Apesar de bater recorde e ultrapassar a metade, o índice não reflete a dimensão de seu desastre. Após ter festejado a previsão de retomada da economia, pálida, segundo a previsão do Focus (mais 1,88%), a nova fica abaixo de 1%. Enquanto países desenvolvidos crescem aproveitando o êxito de isolamento, uso de máscara e vacina, o tríduo desprezado por seu negacionismo de resultados arrebanha fanáticos seguidores, calculados em 11% da população pelo diretor do Datafolha, Mauro Paulino.
No Estadão, Marcelo de Moraes registrou o
marco dos mil dias com duas constatações: “O índice de inflação exibe uma alta
de 9,68% em 12 meses até agosto. Já a Pnad Contínua, que registra o movimento
da economia informal, mostra 14,8 milhões de desempregados até o meio do ano.”
É sabido que a inflação dos mais pobres ultrapassou dois dígitos. Carlos
Madeiro relatou, no UOL, que, desde o início da atual gestão, pelo menos 2
milhões de famílias caíram para os níveis de extrema pobreza (renda per capita
de até R$ 89 mensais), “pessoas
que vivem nas ruas ou em barracos e
enfrentam insegurança alimentar recorrente”. E mais: “o número de junho, por
sinal, é o maior de famílias na miséria desde o início dos registros
disponíveis do Ministério da Cidadania – desde agosto de 2012 – e representa
41,1 milhões de pessoas.” Mas ele não dispensa a pose: “Eu avisei”, berra em
lives e comícios ilícitos.
No Globo, Miguel de Almeida deu ao chefe do
Executivo a pecha de “pé-frio”, que, segundo o etimologista Deonísio da Silva,
se inspira em baixa temperatura de cadáver. Os indícios são fortíssimos. A
pandemia, que ele apelidou de “gripezinha”, é o tema principal da única
oposição digna dessa definição no cenário republicano atual, a Comissão
Parlamentar de Inquérito
(CPI) no Senado. Seus sete membros
majoritários usarão documento de juristas, escrito sob a liderança do
ex-ministro da Justiça Miguel Reale Jr., e lhe atribuíram sete crimes com
possibilidade de abertura de processo de impeachment pela Câmara dos Deputados:
contra a saúde, a administração e a paz públicas e a humanidade, infração de
medidas sanitárias preventivas, charlatanismo, incitação ao crime e
prevaricação.
A má fama da pandemia da covid pode superar
as pragas do pesadelo do faraó do Egito explicado por José. A crise hídrica,
que faz o desgoverno do capitão das malícias aumentar a níveis imorais a tarifa
da luz, não resulta de sua incurável falta de vontade de trabalhar. Mas a
verdade completa é que os caprichos do preguiçoso que tem ódio mortal ao
trabalho anabolizam os efeitos do vírus e da seca porque ele não adota atitudes
que gestores laboriosos e responsáveis tomariam em seu lugar. Como lembrou o
epidemiologista Gonzalo Vecina, no Dois Dedos de Prosa no blog do Nêumanne no
portal do Estadão, ele manteve a obra nefasta da passagem devastadora de seu
líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, no Ministério da Saúde no governo
Temer, seu escriba de falsa pacificação. Ele também esperou que São Pedro
mandasse chuva para evitar a seca nos reservatórios e não preparou o País para
a crise.
“Mil dias sem corrupção”, apregoam seus
seguidores desde a segunda 27. Não é o que revelará o relatório de Renan
Calheiros na CPI. Nem o Ministério Público do Rio, que repetirá no gabinete do
filho Carlos, dito eleitor único de sua vitória em 2018 pelo áulico
secretário-genro das Comunicações, Fábio Faria, a devassa das traquinagens do
coleguinha paraquedista Fabrício Queiroz sob a gestão irresponsável do
primogênito Flávio na Alerj.
A maior prova da falácia é a demolição sistemática e brutal feita com parceiros parlamentares e ministros do Supremo Tribunal Federal do combate ao furto do erário realizado pela Operação Lava Jato e pelo ex-juiz Sérgio Moro. Ele ajudou a tornar Lula elegível por achar ser este o mais fácil a derrotar. Ao nomear Augusto Aras procurador-geral da República para derrubar pedra sobre pedra as conquistas do combate à corrupção, que exaltou falsamente para sair vitorioso na campanha eleitoral de 2018, o péssimo cristão, que cultua morte e mentira, e não vida e verdade, Jair (nada messias) Bolsonaro, serviçal do Centrão de Arthur Lira e do patrimônio imobiliário dos filhos, finge-se de Dimas, à direita do Cristo na cruz, para servir a Simas, o mau ladrão, à esquerda de Jesus.
*Jornalista, poeta e escritor
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