O Estado de S. Paulo
O maior empenho do governador Eduardo Leite
(RS) para vencer as prévias do PSDB em novembro e viabilizar sua candidatura à
Presidência da República em 2022 é transformar sua grande desvantagem na sua
principal vantagem: o fato de ser jovem, uma novidade e inusitado para um
empreendimento tão audacioso.
Quando lhe perguntam se não é cedo para disputar a Presidência, depois de ter passado apenas pela prefeitura de Pelotas e estar no primeiro mandato no governo do Rio Grande do Sul, Leite sorri: “Bem... É mais do que o Jair Bolsonaro, a Dilma Rousseff, o Lula e o próprio Fernando Henrique tinham quando viraram presidentes”.
E não é que ele tem razão? Apesar dos 28 anos de Parlamento de Bolsonaro, de um ministério e uma secretaria estadual de Dilma, da liderança política e sindical de Lula e da sólida carreira acadêmica de FHC, nenhum dos ex-presidentes teve experiência administrativa numa prefeitura ou num governo estadual, muito menos num governo relevante como o que Leite ocupa.
E a idade? Lá vem ele com outra comparação:
Jacinda Ardern, a bem-sucedida primeira-ministra da Nova Zelândia, e Emmanuel
Macron, presidente da França, também assumiram antes dos 40 anos. Sem contar
Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá, que tomou posse aos 43. E deram
muito certo, como frisa o governador. Seu problema, pelas pesquisas, não é a
idade, mas o desconhecimento nacional. Por enquanto...
“É fundamental fazer política para
sustentar sua agenda”, diz ele, que, aliás, tem uma fórmula interessante para
parlamentares aprovarem temas por vezes indigestos e impopulares: “Dar conforto
para eles votarem”. Como? Negociando, participando, explicando para a população
por que tal medida, ruim à primeira vista, é importante para todos.
O obstáculo mais imediato de Eduardo Leite,
porém, é outro: o governador João Doria (SP), que aplicou a primeira dose de
vacina anticovid no Brasil, mas enfrenta alta rejeição mesmo no seu Estado.
Para a equipe de Leite, Doria teria de desfazer sua imagem para construir uma
nova, o que é muito mais difícil do que construir ou consolidar uma imagem
positiva. É o que Leite trata de fazer, circulando no PSDB, entre governadores,
prefeitos e políticos de vários partidos e buscando mais exposição popular.
Com as prévias, dê Leite, dê Dória, a
guerra estará só começando e não será fácil, diante da polarização entre o
“fica Bolsonaro” e o “volta Lula”. Para furar essa bolha, ele já entra no jogo
anunciando que não disputaria a reeleição. Por quê? Quem ganhar a eleição
ficará num fogo cruzado infernal entre os dois lados, a não ser que não ameace
a volta deles.
“Desanuvia o ambiente”, diz Leite, que não
é belicoso como os políticos gaúchos, inclusive seus antecessores no governo
estadual. Segundo ele, é uma questão de temperamento e de racionalidade: “Não
adianta ficar na paixão do debate e não resolver os problemas”. Vamos combinar
que não serão poucos, seja quem for o futuro presidente.
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