quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Mariliz Pereira Jorge - Mil dias de pesadelo

Folha de S. Paulo

Para a doença causada por ele já há remédio na Constituição

Um assunto que bomba mais no meu WhatsApp do que política são as drogas. Aquelas vendidas em farmácia, teoricamente controladas, para o sistema nervoso central. Que está todo mundo meio mal, não há dúvida. E parece uma óbvia vitória que doenças mentais deixem aos poucos de ser tabu, mas o lado sinistro dessas discussões é que não há pudor em trocar impressões sobre tratamentos, medicamentos, efeitos colaterais.

Reportagem da jornalista Claudia Collucci, nesta Folha, mostra que a venda de antidepressivos e estabilizadores de humor tem aumentado sem parar. Em 2019, 12%. No ano seguinte, 17%. Nos primeiros cinco meses de 2021 a alta já foi de 13%.

Uma luz vermelha acendeu por aqui quando uma amiga, adepta de namastê, lavanda e banho de mar, trocou a meditação por um coquetel de tarjas preta e vermelha. Um conhecido contou que compra tudo pelo celular numa farmácia que vende sem receita. Engorda? Tira libido? Dá taquicardia? Deixa feliz? São os questionamentos nos grupos. É mais fácil a indicação de um ansiolítico do que uma receita de pão que dê certo.

Quem sou eu para julgar? Num país com um presidente que faz propaganda de cloroquina no palanque da ONU e seu governo, ao que tudo indica, andou de conchavo com um plano de saúde para atochar "kit covid" em gente idosa, quem consegue atravessar o dia com a cara limpa só pode estar distraído.

Especialistas discutem os custos psicológicos do isolamento, da perda de laços afetivos, do home office, do luto, das sequelas. Qual é a conta da devastação mental causada por este governo? Sua gestão é um pesadelo que já dura mil dias, e o efeito Bolsonaro é desemprego, fome, má gestão da crise sanitária, economia em frangalhos, ataques à democracia, polarização política. O brasileiro vive duas pandemias, uma de doenças mentais causada por um verme. Para isso já há remédio na Constituição.

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