O Estado de S. Paulo
No Dia da Democracia, Bolsonaro é alvo de
juristas, STF, CPI, ONG e partidos
O presidente Jair Bolsonaro prefere as
fotos das manifestações de apoio a ele no Sete de Setembro, realmente
impressionantes (por diferentes motivos), mas os fatos que se sucederam contra
ele, aglutinando poderosos agentes políticos de dentro e de fora do País, são
igualmente impressionantes (neste caso, por motivos óbvios). E mais perigosos.
Vejamos a quarta-feira, 15 de setembro,
justamente o dia internacional da velha, boa e tão atacada democracia:
Bolsonaro sofreu uma enxurrada de más notícias, confirmando que há várias
frentes políticas, econômicas, jurídicas e internacionais fechando o cerco não
apenas contra o que ele diz e faz, mas ao que representa.
A notícia de maior alcance partiu da
comissão de juristas que entregou à CPI da Covid 200 páginas tipificando os
crimes que teriam sido praticados pelo presidente da República durante a
pandemia. Todas aquelas coisas que a gente sabe, viu e ouviu, mas sempre
chocam, irritam e, agora, vêm acompanhadas dos respectivos artigos de códigos,
leis e da Constituição.
O parecer, como o próprio relatório final da CPI, que está no forno, pode ter efeitos drásticos para Bolsonaro, porque será usado para pedido de impeachment na Câmara, de abertura de processos de crime comum na PGR e de crime contra a humanidade no Tribunal de Haia. Uma das juristas, aliás, é Sylvia Steiner, ex-juíza dessa corte.
“As acusações contra Bolsonaro são mais
graves do que aquelas contra Collor e Dilma Rousseff. E suas consequências são
terríveis”, disse à Rádio Eldorado o coordenador dos juristas, Miguel Reale
Jr., ex-ministro da Justiça, autor do pedido de impeachment dos dois
ex-presidentes. Ele sabe das coisas...
Ainda na CPI, o depoente foi Marconny
Albernaz Faria, lobista da Precisa Medicamentos, que só não vendeu vacina
Covaxin para o governo por causa da própria CPI. Mas o importante são suas ligações,
bem próximas, com o filho 04 do presidente, Jair Renan, a ex-mulher do
presidente Ana Cristina Vale e a advogada do presidente, Karina Kufa. Isso vale
ouro.
Enquanto isso, a Human Rights Watch citava
os ataques ao Supremo e às eleições para acusar o presidente do Brasil de
ameaçar a democracia. “O presidente Bolsonaro, um apologista da ditadura
militar no Brasil, está cada vez mais hostil ao sistema democrático”, segundo
José Miguel Vivanco, diretor de Américas da ONG.
Uma semana após o manifesto de Bolsonaro,
pró-moderação, a ministra do Supremo Rosa Weber destacou os “mares revoltos em
que temos navegado” e o presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, alertou que a
democracia está sob ataque no mundo, “por populismo, extremismo e
autoritarismo”. Nunca um Dia da Democracia foi tão animado.
E foi também na quarta-feira que saiu a
lista dos cem líderes mais influentes do mundo da revista Time. Do Brasil, o
único nome foi de Luiza Trajano, do Magazine Luiza, candidata a vice de nove
entre dez presidenciáveis e sonho de alguns para a própria Presidência. Jair
Bolsonaro, que constou da lista de 2020, ficou de fora.
Se o 7 de Setembro pró-Bolsonaro foi um
sucesso de presença e um desastre de discurso, o 12 de Setembro anti-Bolsonaro
foi um fiasco em número e grau. As oposições, porém, começam a se aprumar. Nove
partidos pretendem financiar a convocação dos próximos protestos, no início de
outubro e em 15 de novembro, já embalados pelo relatório da CPI.
Nesses quase três anos, Bolsonaro esteve
tão ocupado em manter e atrair aquela gente toda que foi à rua que não teve
tempo para governar e, assim como não viu a economia desandando, as queimadas
na Amazônia e a crise hídrica chegando, ele também foi incapaz de reagir
devidamente à única tempestade que realmente lhe interessa: o cerco se
fechando.
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