O Globo
O governo Bolsonaro já produziu um imitador
de Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda do nazismo. Agora faz lembrar
Josef Mengele, o médico que fazia experimentos macabros em Auschwitz.
O doutor ficou conhecido por usar
prisioneiros como cobaias. Tratava seres humanos como ratos de laboratório, sob
inspiração de uma ideologia que pregava a “higiene racial”.
Associada à barbárie nazista, a expressão
“cobaias humanas” é citada no relatório da comissão de juristas que aconselha a
CPI da Covid. O documento defende que o presidente Jair Bolsonaro e o
ex-ministro Eduardo Pazuello sejam denunciados ao Tribunal Penal Internacional
pela prática de crimes contra a humanidade.
Os juristas classificam a gestão da pandemia como um ataque à população civil. O governo sabotou medidas sanitárias, negou assistência a indígenas, retardou a compra de vacinas e apostou na tese da imunidade de rebanho, que acelerou a circulação do vírus.
O relatório descreve a crise de Manaus como
um “caso exemplar de desprezo à vida”. Afirma que a cidade virou palco de um
“experimento pseudocientífico” com a distribuição de remédios ineficazes. Em
janeiro, os hospitais entraram em colapso e dezenas de pacientes morreram
asfixiados.
As investigações da CPI indicam que o
governo não foi o único a tratar doentes como cobaias. Um dossiê enviado aos
senadores afirma que a seguradora Prevent Senior ocultou mortes de pacientes que
participaram, sem saber, de um estudo com as mesmas drogas.
A pesquisa foi repassada a Bolsonaro, que a
usou para fazer propaganda do “tratamento precoce”. A empresa negou as
acusações, reveladas ontem pela GloboNews, e disse ser vítima de “denúncias infundadas”.
A professora Deisy Ventura, da Faculdade de
Saúde Pública da USP, lembra que o envolvimento do setor privado é uma
constante na história dos crimes contra a humanidade. “Empresas que têm
afinidade com o governo costumam se prestar a este papel”, afirma.
Depois da rendição dos nazistas, Mengele
fugiu para a América do Sul. Terminou seus dias no Brasil, escondido sob
identidade falsa. Se voltasse hoje ao país, o doutor teria chance de conseguir
um emprego em Brasília.
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