Correio Braziliense
A reprovação ao governo
Bolsonaro oscilou dois pontos para baixo em relação ao levantamento de julho:
53% consideram o governo ruim ou péssimo”
Graças às redes sociais, a participação da
sociedade na política se ampliou muito, com certas características da forma
como as pessoas se articulam na internet, ou seja, as chamadas de “tribos” —
quando se agrupam por interesses permanentes — ou “bolhas”, no caso das
correntes de opinião política encapsuladas em grupos de pressão. Tanto as
mudanças econômicas, financeiras e tecnológicas aceleradas pela globalização,
como a revolução nos costumes, por exemplo, são fatores de maior diversidade
social e pluralismo político.
A expressão “maioria silenciosa” se refere às pessoas politicamente acomodadas que, de um modo geral, têm posições conservadoras, mas não manifestam opinião publicamente. Esse conceito surgiu nos Estados Unidos, como muitos outros, durante o governo de Richard Nixon, quando, em 1969, ele pediu à população americana mais apoio ao envio de tropas para lutar no Vietnã. Havia, com razão, muita resistência à intervenção norte-americana no Sudeste Asiático, mas Nixon conseguiu o apoio da maioria da sociedade. Desde então, conquistar o apoio dessa parcela da sociedade passou a ser uma das principais preocupações dos políticos.
A eleição de Donald Trump foi um momento de
mudança na relação dos políticos com essa “maioria silenciosa”, que deixou de
sofrer a influência predominante dos grandes meios de comunicação para ser
pautada por minorias ativas nas redes sociais, em parte formada por setores
que, até então, não tinham como se expressar nos movimentos civis e sociais.
Tais grupos são muito barulhentos e conseguem pautar as políticas públicas, e
até os meios de comunicação. Esse fenômeno voltou a ocorrer, com sinal trocado,
na campanha que levou o democrata Joe Biden à vitória.
Um marco dessa mudança foi o movimento
Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), que hoje tem caráter internacional,
mas surgiu na comunidade negra dos EUA, que luta contra a violência racista.
Emergiu em 2013, com o uso da hashtag #BlackLivesMatter em redes sociais, após
a absolvição de George Zimmerman, que atirou fatalmente no adolescente negro
Trayvon Martin. O movimento ficou conhecido por suas manifestações de rua após
a morte, em 2014, de dois afroamericanos. Em maio de 2020, o movimento ganhou
repercussão mundial com a morte de George Floyd, durante uma ação policial em
Minneapolis. Milhares de pessoas foram às ruas protestar a favor da vida das
pessoas negras no mundo todo. Foi então que Trump começou a perder as eleições.
Pesquisa
Como estamos na esfera de influência do
chamado americanismo, esse fenômeno também ocorre no Brasil, obviamente com
características próprias, entre as quais o peso da questão ética no
posicionamento da sociedade em relação à política. Em grande parte, a vitória
do presidente Jair Bolsonaro, em 2018, foi uma deriva da eleição de Trump e da
forte rejeição provocada pela Operação Lava-Jato à política tradicional e ao
envolvimento dos grandes partidos em escândalos de corrupção. Agora, as
pesquisas estão mostrando um movimento em sentido inverso, em decorrência do
desempenho do governo Bolsonaro em diversas áreas: crise sanitária, alta
inflacionária, crise hídrica, ameaças à democracia etc.
A pesquisa DataFolha divulgada ontem é uma
comprovação disso. A reprovação ao governo Bolsonaro oscilou dois pontos
percentuais em relação ao levantamento feito em julho: 53% consideram o governo
ruim ou péssimo, o pior índice do mandato — na última pesquisa, eram 51%. O
percentual dos que consideram o governo bom ou ótimo caiu de 24% para 22%,
enquanto a parcela que o considera reguar manteve-se em 24%. A pesquisa ouviu
3.667 pessoas com mais de 16 anos, dos dias 13 a 15 de setembro, em 190
municípios brasileiros. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos.
O mais importante é que o levantamento foi
feito após as manifestações do 7 de Setembro, convocadas por Bolsonaro, que
foram muito maiores do que as de oposição moderada, realizadas no dia 12
passado. A alta de preços da gasolina, do gás e dos alimentos, e a existência
de 14,4 milhões de desempregados pesaram na balança da pesquisa, inclusive na
classe média e entre os evangélicos, onde o presidente da República perdeu
muito apoio. Em resumo, a chamada “maioria silenciosa” mudou de lado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário