O Estado de S. Paulo
Bolsonaro é bom de gogó, mas não é mágico
para mudar a realidade de 580 mil mortos, desemprego, inflação
O presidente Jair Bolsonaro é capaz de
tudo, até de transformar uma vitória em derrota. Ele deu uma demonstração de
força e conquistou poderosas fotos de multidões em Brasília, Rio e São Paulo
neste 7 de Setembro, mas jogou tudo fora ao irritar as instituições com seu
discurso golpista e blefar com a convocação do Conselho da República, sabe-se
lá para que fim.
Em desvantagem no Conselho da República, que
reúne também os presidentes e líderes da maioria e da minoria na Câmara e no
Senado, ele teve de ajustar a proposta no fim do dia. Em vez de Conselho da
República, tratava-se do Conselho do Governo, restrito aos seus ministros, que
são aliados, amigos e submissos. E para quê? Para nada.
A esquerda cometeu dois erros. O primeiro foi tentar enfrentar as manifestações pró Bolsonaro com protestos contra ele, provocando comparações constrangedoras, já que os atos bolsonaristas foram muito mais concorridos, como esperado. O segundo erro foi tentar reduzir o peso das multidões que foram às ruas, enroladas na bandeira nacional e no nosso verde e amarelo, para endeusar o mito e atacar o Supremo e a democracia.
As fotos e vídeos das manifestações
realmente impressionam, porque elas lotaram a Esplanada dos Ministérios, a
Praia de Copacabana e a Avenida Paulista. Uma expressiva multidão de fiéis, que
acreditam piamente no discurso barato do presidente de que o Supremo é que
ameaça a democracia e ele é o salvador da Pátria, o Quixote contra as
instituições.
Foi uma manifestação de força política de
Bolsonaro, mas isso segue a lei da física e da própria política: toda a ação
gera uma reação. Ele venceu a batalha desta terça-feira, 7 de Setembro, mas a
guerra continua. Nada como um dia atrás do outro. Depois de terça, vem quarta,
quinta, sexta e muita água vai rolar debaixo dessa ponte até outubro de 2022,
em condições bastante adversas para a reeleição.
Bolsonaro é bom de gogó, mas não é mágico o
suficiente para mudar a realidade: 580 mil mortos de Covid, as negociatas das
vacinas reveladas pela CPI, além de desemprego, inflação, cesta básica,
gasolina, gás de cozinha, juros e conta de luz subindo. E onde está o
presidente? Que reunião ele fez? Que determinações deu? Quando manifestou
preocupação para os brasileiros? Nada.
A primeira reação dos partidos é
reveladora: quanto mais o presidente radicaliza e põe gente na rua para
defender o indefensável, mais aumenta a pressão pró impeachment. E os ministros
do Supremo se reuniram ontem para combinar um posicionamento comum hoje, em
favor da Justiça, do equilíbrio institucional, da democracia. Ou seja: contra
Bolsonaro.
Enquanto os poderes se unem, chocados com o
desequilíbrio do presidente da República, vale uma reflexão: que tal o
tricampeão Nelson Piquet virando as costas para o pai, cassado pelo AI-5, para
defender o golpista, o golpe e manifestações que pedem a volta da ditadura
militar? E que tal a multidão badalando o operador das rachadinhas, Fabrício
Queiroz, como herói? Já tivemos heróis melhores...
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