O Globo
O silêncio no zap das autoridades em
Brasília depois do discurso de Jair Bolsonaro indicava que o que tinha acabado
de acontecer havia mexido com os cálculos políticos de todos eles. Indicava,
também, que vai começar uma nova etapa na longa crise vivida pelos poderes.
Mas, para saber se ela será capaz de levar ao impeachment, vai ser preciso ver
como os líderes do Judiciário e do Congresso, especialmente o presidente da
Câmara, Arthur Lira (PP-AL), vão se entender nos bastidores.
Os magistrados interpretaram o discurso da
Paulista como um ataque não a alguns ministros, mas ao próprio Judiciário.
"Ou tiramos ele, ou ele implanta a ditadura", me disse um
interlocutor dos togados.
Todos sabem, porém, que a saída não se dará
por canetada de juiz e sim pela política. Para isso precisam de Lira, que nunca
teve interesse em afastar Bolsonaro. Pelo contrário. Cada pedido de impeachment
só amplia seu poder. Sua cota bilionária do orçamento secreto é a expressão mais
concreta disso.
É verdade que desde 2020, quando Bolsonaro anunciou no QG do Exército que "acabou a patifaria, agora é o povo no poder", sua situação se deteriorou bastante. Naquela época, o empresariado ainda o apoiava, a inflação não era um problema e a pandemia não havia matado mais de 580 mil pessoas.
Mas, políticos experientes que são, Lira e
os líderes do Centrão não desprezam o apoio recebido pelo presidente
nas ruas. Também não vão abrir mão de Bolsonaro antes da aprovação do Orçamento
de 2022 e do fundo eleitoral.
Acontece que um processo de impeachment
pode levar meses, e nesse tempo serão decididas questões importantes que
dependem da Justiça e podem inviabilizar o governo – como o enrosco dos precatórios, os inquéritos contra o bolsonarismo e ações contra o
orçamento secreto.
Tais decisões podem ajudar a convencer Lira
e o Centrão de que eles têm mais a perder ficando com o presidente do que
jogando-o ao mar. Resta saber se a solução das togas e da oposição será
politicamente mais eficaz do que a caneta do presidente da República.
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