O Estado de S. Paulo
Como se esperava, o 7 de Setembro é a maior
expressão do bolsonarismo nas ruas. Especular números e fotos aéreas é, porém,
aceitar a cilada com o que o presidente pretenderá manipular a opinião pública.
Mais expressivo é explicitar métodos e estilos: a mobilização patrocinada por
recursos obscuros, a disposição de botar tudo abaixo, a antipolítica e a opção
preferencial pelo caos são marcas de sua política.
A estética é bruta, a trilha sonora é a
fúria; os alvos: o STF e os fantasmas forjados pela ultradireita internacional.
A truculência como gramática foi o meio e a mensagem dos manifestantes e do
presidente. E, com isso, a insegurança e a impressão de um possível cheiro de
pólvora no ar cobrem o País de temores. Despertar o medo é a estratégia para
acuar os adversários.
Porém, foi mostrando sua força que o bolsonarismo revelou sua fragilidade. Ao lado do presidente há uma massa disforme, sem organicidade, agenda, visão de longo prazo. Personagens revoltosos que expressam todo o tipo de intolerância: negacionismo, fundamentalismo religioso, medievalismo, o tradicional farisaísmo nacional. A triste expressão da “nova política” num momento em que nos horizontes do Planalto Central não há futuro.
Antecipando-se a constrangimentos desse
tipo, setores modernos da economia e da sociedade afastaram-se, ainda mais, do
presidente; sabe-se também do pouco prestígio internacional de que goza Jair
Bolsonaro. Os números enganam viciados na objetividade; os fatos, porém,
demonstram que as manifestações gritaram o isolamento de uma pequena multidão.
Uma ilha, uma bolha, onde mais significativas que os presentes foram as
ausências.
Bolsonaro, porém, preferirá ignorar tudo e
posar numa foto que não existiu. É seu jogo: radicalizar sua massa e utilizar o
poder e o cargo de que dispõe e, então, expor o País a ameaças e bravatas,
como, por exemplo, convocar o Conselho da República para mostrar-lhes “o
caminho”, sem que saiba ao certo qual o caminho.
O quadro se apresenta ainda sensível e perigoso: afinal, Bolsonaro e seus radicais cruzaram (ou não) o tal Rubicão da democracia? Não cabe tergiversar, como reagirão as instituições? E como reagirá o fragmentado e disperso antibolsonarismo, principal força política do País, dividido em interesses eleitorais diversos. Perceberá que a polarização de fato existente é de Bolsonaro com a Nação? O 7 de Setembro trouxe o desafio do dia seguinte: é preciso união para pôr freio, a tempo, a um ônibus em carreira e desgovernado.
*Cientista Político. Professor do Insper
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