Folha de S. Paulo
Tribunal tem cadeira vazia porque
presidente criou aliança defeituosa e pratica vandalismo institucional
Pendurada há 92 dias, a indicação de André
Mendonça ao STF é um produto acabado da anomalia política que Jair Bolsonaro
instalou no país. O tribunal tem uma cadeira vazia porque o presidente escolheu
governar para falanges ideológicas, contratou a proteção de uma coalizão de
aluguel e recorreu ao vandalismo institucional para exercer o poder.
O nome de Mendonça ficou travado porque só
interessa a um dos lados da aliança disfuncional que mantém Bolsonaro no cargo.
O presidente nunca escondeu que a indicação do ministro era o pagamento
de uma dívida com líderes evangélicos.
O problema de Bolsonaro é que ele precisa de Silas Malafaia, que endossa manobras golpistas da porta do Planalto para fora, mas também depende de Ciro Nogueira, que protege o governo com base no que é dito a portas fechadas. O centrão conhece o tamanho de seu poder e tenta forçar a troca do nome escolhido.
Bolsonaro experimenta os efeitos dos
acordos mal-ajambrados que costurou para sobreviver enquanto exerce sua vocação
autoritária. Quem bloqueia
a indicação de Mendonça é Davi Alcolumbre, um senador que foi
patrocinado pelo governo com verbas oficiais nos últimos anos e agora é
comparado pelo presidente a um torturador.
As motivações podem ser nobres ou
indecorosas, mas o fato é que Alcolumbre impede que Bolsonaro mande um aliado
para a corte que ele tenta destruir. Apesar de ter falsificado uma trégua, o
presidente passou o ano em confronto aberto com o STF, espalhou mentiras sobre
decisões do tribunal e liderou o protesto golpista que tinha o objetivo de
forçar a derrubada de ministros.
Ao longo do processo, Bolsonaro fez com que
Mendonça se comprometesse a abrir as sessões do tribunal com uma oração, disse
que o novo ministro almoçaria com ele no Planalto uma vez por semana e deu a
entender que havia combinado votos "contra as pautas progressistas".
O próprio presidente conduz essa escolha com a mesma esculhambação com que
trata o STF.
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