Folha de S. Paulo
Bolsonaro faz nova campanha contra a
vacina; taxa de vacinação em vários estados é baixa
No Mato Grosso do Sul, mais de 81% da
população com 18 anos de idade foi totalmente
vacinada. Em São Paulo, 78,5%. Há estados em que não chegam à metade disso,
como Roraima e Amapá (menos de 38%) ou em que se vacinou menos da metade de
seus habitantes (Pará, Tocantins, Piauí).
Ainda é difícil entender tamanhas
disparidades e diferenças quase tão grandes na eficiência da aplicação das
doses de vacinas recebidas. Mesmo em estados eficientes, como em São Paulo, 4,1
milhões de pessoas estão com a segunda dose atrasada. No estado, 72,4% das
pessoas com 12 anos ou mais já completaram sua vacinação. Se as atrasadas
tivessem tomado a segunda injeção, esse percentual subiria para cerca de 83%
(podem tomar no sábado, dia especial de imunização no estado).
O número de mortes mais e mais se concentra em quem não tomou a injeção. Jair Bolsonaro, o amante da morte, parece se sentir traído ao ver que tanta gente preferiu a vacina. Mas ainda tenta seduzir vulneráveis e matar quantos puder, em um “sprint” final da sua corrida para o inferno.
“Eu decidi
não tomar mais a vacina. Eu estou vendo novos estudos, a minha imunização
está lá em cima, para que vou tomar a vacina? Seria a mesma coisa que você
jogar R$ 10 na loteria para ganhar R$ 2. Não tem cabimento isso”, disse nesta
quarta-feira (13). Nada tem cabimento aí, da propaganda da morte ao cálculo
maluco de esperança matemática, passando pela ignorância sobre a imunologia do
coronavírus.
Poucos brasileiros deram atenção a
Bolsonaro, pelo menos até agora. Segundo o Datafolha de julho passado, 94%
dos entrevistados tinham se vacinado ou declaravam que pretendiam se
vacinar contra a Covid. Na prática, não se sabe o que vai acontecer daqui até o
final do ano, ainda menos se a epidemia continuar a refluir. No mínimo, mais
gente pode se sentir tentada a relaxar. Talvez alguns acreditem no monstro do
Planalto.
A gente ouve notícias de pessoas
tristemente desinformadas ou ingênuas que recusaram a vacina e morreram, em
particular idosos. Dada a taxa baixa de vacinação em alguns estados e locais, é
possível ainda que ocorram repiques de epidemia. Se parece alarmismo, basta ver
o que aconteceu nas regiões dos Estados Unidos em que a vacinação era menos
disseminada (ainda assim maior que em alguns estados brasileiros), como
aqueles governados
por Republicanos, trumpistas, companheiros dos Bolsonaro no consórcio
internacional da morte e da ignorância.
No universo da razão, a conversa é outra: a
disparidade estadual das taxas de vacinação e de uso das vacinas. Em uma ponta,
está o Rio de Janeiro, que aplicou 97,4% das vacinas que recebeu. São Paulo vem
em segundo lugar, com 96,6%. Na prática, levados em conta os tempos de
transporte e algum eventual estoque, esses estados injetam quase todas as doses
que chegam. Pode ser eficiência, pode ser disposição maior das pessoas de se
imunizar. Quase um terço dos estados aplicou menos de 75% das vacinas
recebidas.
O número relativo de mortes na epidemia ou
mais recente, desde agosto, não explica essa disparidade, assim como o número
de doses recebidas por cabeça (que aliás também é díspar). A região tampouco; a
densidade da população dá alguma pista. Seja qual for o motivo, administrativo,
cultural, social, psicológico ou de infraestrutura, é preciso recuperar os
retardatários.
Cada vida importa, se por mais não fosse. Mas há mais: enquanto houver tanto vírus circulando, há risco de surtos, repiques, mutações e um mensageiro da morte a ameaçar um final de ano que pode ser menos triste.
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