Falou e Disse
Cada vez fica mais distante a
ideia das pessoas idosas em casa, sentadas em suas cadeiras à espera de ajuda
dos familiares, ou acomodadas com os problemas impostos pela vida.
O mês de outubro teve início com a
comemoração pelo Dia Internacional da Pessoa Idosa. A data foi instituída pela
Organização das Nações Unidas (ONU), em 1991, e serve como um alerta para a
sociedade civil sobre a necessidade de proteção e de cuidados com os idosos.
De repente, me descobri uma pessoa idosa.
Aconteceu quando decidi parar de trabalhar, após viver e trabalhar durante 72
anos.
A vida é assim; a gente nasce, cresce,
passa por vários momentos carregados de felicidade, amor, afeto, desilusão,
angústia, satisfação e segue em busca de algo a cada dia, sempre o que
consideramos melhor e possível para nós e para o outro. Sim, porque no trajeto
a gente vai agregando maridos ou companheiros, filhos, amigos, os amigos dos
amigos, a vizinhança, os gatos e os cachorros… tive vários.
No entanto, é o trabalho que marca a vida desde cedo. Primeiro pela necessidade de sobrevivência, mas também porque o trabalho exerce um papel fundamental na vida do ser humano na relação com a natureza e através das relações, nós, homens e mulheres, transformando as nossas vidas e nossas consciências pelo exercício da criatividade, da inteligência, em magia da utopia, o “lugar” ideal que não é o agora, na concepção grega da palavra.
Então, cá estou eu agora aos 76 anos,
idosa, no dizer de todos, das estatísticas, dos censos que produzem os dados
que deveriam ser utilizados para planejar e executar políticas públicas.
Embora pareça que nada muda, muita coisa
acontece. O organismo começa a se queixar do tempo de funcionamento. Aí muda o
equilíbrio, doem as articulações, falta nitidez à visão, o tesão enfraquece,
numa forte indicação de que é preciso suprir algumas necessidades orgânicas.
No entanto, com o avanço das tecnologias,
da ciência, da medicina, o mundo tem se dado conta de que mudou
significativamente a expectativa de vida da população.
Um estudo do Departamento Intersindical de
Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostrou que quase um quinto da
população brasileira é composta por pessoas com 60 anos ou mais. (Pesquisa de
02/2021).
Dos cerca de 210 milhões de habitantes do
país, 37,7 milhões de brasileiros possuem 60 anos ou mais. Desses, no
levantamento nacional, 18,5% trabalham; 85% moram com outras pessoas; 21% moram
com estudantes; 75% contribuem com pelo menos metade da renda familiar; 26%
estão em domicílios que receberam auxílio emergencial; 32% têm plano de saúde;
58% apresentam comorbidades; e 2,5% testaram positivo para a Covid-19.
Interessante destacar que dos que
trabalham, uma parte o faz porque ainda se sente responsável pela manutenção da
família, sobretudo morando com filhos desempregados ou com baixos salários, e
netos. Mas também é comum o exercício do trabalho, por aquelas que se sentem
pessoas produtivas, com boa saúde e aptas ao desenvolvimento das suas
criatividades, sobretudo quando a atividade laboral pode ser exercida com flexibilidade
e sem a preocupação da sobrevivência básica.
Com o índice de desemprego
alto, em 14 milhões, é quase impossível que idosos ocupem postos de trabalho,
mesmo estando aptos e manifestando interesse.
Em 2011, a expectativa de vida do
brasileiro era de 74,1 anos, índice que vinha se mantendo em crescimento até
2019, chegando a 76,6 anos sendo, 73,1 entre os homens e 80,1 anos entre as
mulheres.
Atualmente, com a pandemia registrando
quase 600 mil mortos, houve uma regressão no geral: o brasileiro perdeu quase
dois anos de vida. “A expectativa de vida dos brasileiros caiu 1,8 ano em
2021”. (Registro da pesquisa realizada pela pesquisadora Maria Castro
DPSG/Harvard).
Embora seja o Nordeste uma região com
profundas desigualdades, não sofreu grande impacto com a redução da expectativa
de vida. Os pesquisadores creditam a isso ao fato de que no Nordeste, os
estados tomaram medidas, contra a pandemia em concordância com as orientações
científicas.
“As medidas que foram tomadas contra a
pandemia, quando você compara as duas regiões, são completamente diferentes. Na
região Nordeste você verifica medidas que iam completamente contra o que o
presidente queria que fosse feito”, diz Castro.
Cada vez fica mais distante a
ideia das pessoas idosas em casa, sentadas em suas cadeiras à espera de ajuda
dos familiares, ou acomodadas com os problemas impostos pela vida.
Vem surgindo uma nova “categoria” de
pessoas denominadas idosas pelos anos de vida, mas cada vez mais cuidando da
saúde, fazendo exercícios, compartilhando amizades, afetos e amores novos.
Muitos, se têm possibilidades, voltam ao mercado de trabalho e se aventuram nas
linguagens digitais.
No Brasil, devemos creditar a orientação
para saúde ao programa de saúde da família implantado pelo Sistema Único de Saúde
(SUS), pelo Brasil inteiro, com suas equipes multidisciplinares orientadas para
os cuidados com a prevenção e o controle de comorbidades como diabetes,
hipertensão arterial, obesidade mórbida e outas doenças que acometiam os idosos
com muita frequência.
Com os direitos garantidos pela
Constituição e pelo Estatuto do Idoso, as pessoas com mais de 60 anos ganharam
em qualidade de vida. No entanto, é preciso observar situações de pessoas
idosas que ainda são exploradas pelas famílias ou por situações de abrigamento
precário em que se encontram.
As pessoas com mais de 60 anos representam
o segmento de consumo que mais cresce, ganhando mais importância na economia.
No Brasil, 10,8 milhões de pessoas dependem da renda de aposentados para viver,
segundo levantamento realizado pela LCA Consultores e publicado pelo jornal O
Estado de São Paulo.
Geralmente temos medo do envelhecimento,
natural, numa sociedade que cultua o que é belo sempre relacionado à juventude.
O medo se expressa na insegurança financeira, no distanciamento da família, na
má qualidade de vida. Enquanto isso, as coisas boas do envelhecimento chegam
através da segurança na tomada de decisões, na experiência acumulada, com a
saúde boa com independência e maior controle nas emoções. Foi o que revelou uma
pesquisa da farmacêutica Pfizer, realizada com mais de mil pessoas entre homens
e mulheres.
“Entre os achados, foi encontrado que uma
boa parte dos brasileiros (43%) acreditam que estão envelhecendo exatamente da
maneira esperada. Apenas 17% dos brasileiros acreditam que a experiência é pior
do que imaginavam e para 28% o processo de envelhecer está superando as
expectativas”. (Manuela Pagan)
Sobre a renda, a FGV indica que os idosos
correspondem a 17,44% dos 5% dos brasileiros mais ricos e 1,67% dos 5% mais
pobres. Quanto à fonte de renda, os idosos recebem 59,64% das aposentadorias da
Previdência Social, 40,78% dos benefícios de Prestação Continuada (BPC-um
salário mínimo)) e apenas 0,89% do Bolsa Família. (Agencia Brasil).
Quanto a escolaridade, os idosos constituem
30% dos analfabetos brasileiros.
Bom mesmo é seguir vivendo bem,
aproveitando bem o tempo do envelhecimento. No entanto, é preciso que as
políticas públicas incorporem a ideia de que o Brasil registra o crescimento da
população idosa de forma acelerada, devendo chegar a 25,5%, até o ano de 2060,
quando a população idosa será de 58 milhões, segundo o IPEA.
É necessário cuidar dos jovens agora para
se ter uma velhice com melhor qualidade de vida no futuro próximo.
*Mirtes Cordeiro é pedagoga.
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