Folha de S. Paulo
Moro anuncia conselheiro, mas não dá pistas
de sua agenda e de como pretende implementá-la
Numa corrida eleitoral, o anúncio de um
guru econômico costuma ser uma maneira eficaz de fabricar um fato político, mas
um péssimo indicador do programa de um futuro governo. Para ter uma ideia do
que um candidato fará se chegar ao poder, é mais importante saber o que ele
próprio pensa do que ouvir as análises de um conselheiro.
Nesta campanha antecipada, Sergio Moro
sacou do bolso o nome de Affonso Celso Pastore como integrante de seu
time. Em entrevista
à TV Globo, o ex-juiz o descreveu como "um economista de
renome, um dos melhores nomes do país, alguém que eu conheço há muito
tempo".
Já se sabe o que Pastore pensa sobre diversos temas da economia. Ele diz ser favorável à abertura do mercado brasileiro ao exterior e à redução do peso do governo, sem a doutrina do Estado mínimo. O economista pode até criar um programa para Moro, mas os sinais emitidos pelo pré-candidato não dão pistas concretas de sua agenda e de como ele pretende implementá-la.
Até aqui, o ex-juiz
falou em superar desigualdades, destacou a necessidade de controlar
a inflação e, de modo geral, seguiu a linha de Pastore. Isso não faz do
candidato uma tela em branco. A dupla Jair Bolsonaro-Paulo Guedes provou que os
interesses políticos de um presidente valem mais do que os planos econômicos
recitados durante a campanha.
Além disso, a implantação de qualquer
programa depende da capacidade de um governo de articular a aprovação desse
conjunto de propostas no Congresso. Moro, como se sabe, não é dos personagens
mais queridos pelos políticos –e eles certamente fariam questão de deixar no
papel muitos desses projetos.
É cedo para exigir dos candidatos um plano
completo para a economia. Lula só deve apresentar seu programa de governo em abril,
e Bolsonaro ainda não deu sinais de quem será seu conselheiro nessa área (se depender
do centrão, não será Paulo Guedes). Por enquanto, anúncios como o de
Moro valem tanto quanto um cheque sem fundos.
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