Folha de S. Paulo
Não penso que seja tão simples culpar a
Lava Jato pelo fato
Especialmente depois da liberação judicial
de Lula para
concorrer na próxima eleição, voltou a circular a ideia de que foi a
Operação Lava Jato que colocou Bolsonaro no poder. Não penso que seja assim tão
simples.
Começo retomando um argumento que já usei
para defender o PT da acusação de ter sido responsável pela eleição do atual
presidente. Precisamos diferenciar causas próximas das mais remotas e devemos
reservar o rótulo "culpa" às primeiras, ou acabaremos
responsabilizando o Big Bang por tudo o que há de errado no mundo.
Bolsonaro foi eleito porque recebeu a maior parte dos votos válidos. O culpado, portanto, é o eleitor. Isso não nos impede de analisar os vários elementos que contribuíram para esse desfecho, mas devemos ser cuidadosos para não transformar cofatores em causa primordial, o que levaria a uma má compreensão do fenômeno.
A Operação Lava Jato, ao ter fomentado o
antipetismo e retirado Lula da disputa de 2018, decerto ajudou Bolsonaro a
chegar ao poder, mas não está tão claro que tenha sido determinante. Não estou
tão seguro de que, se tivesse podido candidatar-se, Lula teria batido Bolsonaro
no segundo turno. Os demais resultados daquela eleição mostram um voto com
forte tendência antipetista, que se repetiu em 2020.
Mas o antipetismo também é culpa da Lava
Jato, proclamará o lulista empedernido. Talvez, mas só até certo ponto. Se o
frenesi anticorrupção motiva eleitores, a economia também o faz. E, até onde
consigo enxergar, a recessão de 2015-16, sob Dilma Rousseff, foi mais decisiva
para o antipetismo do que as denúncias de corrupção, ainda que as duas possam
ter atuado sinergicamente.
E nem é preciso recuar muito para ver isso.
Em 2005-6, o PT e o próprio Lula estavam enredados no escândalo do mensalão.
Mas, como a economia ia bem, Lula se reelegeu sem dificuldade. E não dá para
dizer que foi a Lava Jato que causou a recessão.
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