sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Celso Ming - Desemprego e treinamento

O Estado de S. Paulo

Na edição desta quinta-feira, esta Coluna tratou da destruição de postos de trabalho que vem sendo produzidas tanto pelas inovações tecnológicas quanto pelo processo de substituição de energia fóssil por fontes limpas.

O especialista em Economia do Trabalho José Pastore está de pleno acordo em que esse fechamento de postos de trabalho vem acontecendo. Só não aceita a afirmação sem a necessária confirmação de que a criação de novos empregos não se dê na mesma proporção do fechamento dos anteriores. "Tudo depende do vigor do crescimento econômico e da qualidade da educação. Japão, Estados Unidos e Alemanha são países que incorporaram um volume brutal de tecnologia e, antes da pandemia, exibiam os menores índices de desemprego do mundo."

Pastore adverte que é preciso mudar os sistemas de ensino e intensificar os projetos de qualificação e reinserção da mão de obra no mercado de trabalho.

É tarefa difícil. Os desafios nessa área são enormes e não muito claros. Luis Claudio Kubota, técnico do Ipea, observa que, no Brasil, as novas gerações são mais escolarizadas do que as de seus pais e avós. No entanto, isso não vem melhorando as estatísticas de produtividade. Por quê? Porque essa maior escolaridade não atende aos empregos que estão sendo criados. A nova geração vai para funções de baixa qualificação que não acusam melhor produtividade.

O dado novo é o de que "a pandemia produziu um cataclismo no ensino", pois parte dos estudantes não tem acesso à internet e não acompanha a educação a distância. Muitos agora tendem a abandonar a escola. Isso significa que, até mesmo antes de criar sistemas mais eficientes de treinamento, será preciso recuperar o prejuízo e atrair esses excluídos de volta às salas de aula. Afora isso, é preciso qualificar esses jovens para que possam operar sob as novas tecnologias e nos postos de trabalho que serão formados na esteira da transição energética.

Como afirma Fausto Augusto Júnior, diretor do Dieese, a implantação de tecnologias vem a tal velocidade que não haverá tempo para qualificar a atual geração de trabalhadores. Vai ser preciso esperar a próxima e, enquanto isso, conviver com as demissões: “O caixa do supermercado que sobrou com a implantação do autoatendimento não conseguirá ser capacitado para criar esses sistemas. Ele acabará indo para um trabalho manual. Ou seja, haverá um descasamento temporal”. Por isso, é preciso planejamento para atender às novas necessidades educacionais e profissionalizantes.

O diabo é que não se vê no governo nenhuma atenção para o enfrentamento do problema.

 

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