O Estado de S. Paulo
Na edição desta quinta-feira, esta Coluna
tratou da destruição de postos de trabalho que vem sendo produzidas tanto pelas
inovações tecnológicas quanto pelo processo de substituição de energia fóssil
por fontes limpas.
O especialista em Economia do Trabalho José
Pastore está de pleno acordo em que esse fechamento de postos de trabalho vem
acontecendo. Só não aceita a afirmação sem a necessária confirmação de que a
criação de novos empregos não se dê na mesma proporção do fechamento dos
anteriores. "Tudo depende do vigor do crescimento econômico e da qualidade
da educação. Japão, Estados Unidos e Alemanha são países que incorporaram um
volume brutal de tecnologia e, antes da pandemia, exibiam os menores índices de
desemprego do mundo."
Pastore adverte que é preciso mudar os sistemas de ensino e intensificar os projetos de qualificação e reinserção da mão de obra no mercado de trabalho.
É tarefa difícil. Os desafios nessa área
são enormes e não muito claros. Luis Claudio Kubota, técnico do Ipea, observa
que, no Brasil, as novas gerações são mais escolarizadas do que as de seus pais
e avós. No entanto, isso não vem melhorando as estatísticas de produtividade.
Por quê? Porque essa maior escolaridade não atende aos empregos que estão sendo
criados. A nova geração vai para funções de baixa qualificação que não acusam
melhor produtividade.
O dado novo é o de que "a pandemia
produziu um cataclismo no ensino", pois parte dos estudantes não tem
acesso à internet e não acompanha a educação a distância. Muitos agora tendem a
abandonar a escola. Isso significa que, até mesmo antes de criar sistemas mais
eficientes de treinamento, será preciso recuperar o prejuízo e atrair esses
excluídos de volta às salas de aula. Afora isso, é preciso qualificar esses
jovens para que possam operar sob as novas tecnologias e nos postos de trabalho
que serão formados na esteira da transição energética.
Como afirma Fausto Augusto Júnior, diretor
do Dieese, a implantação de tecnologias vem a tal velocidade que não haverá
tempo para qualificar a atual geração de trabalhadores. Vai ser preciso esperar
a próxima e, enquanto isso, conviver com as demissões: “O caixa do supermercado
que sobrou com a implantação do autoatendimento não conseguirá ser capacitado
para criar esses sistemas. Ele acabará indo para um trabalho manual. Ou seja,
haverá um descasamento temporal”. Por isso, é preciso planejamento para atender
às novas necessidades educacionais e profissionalizantes.
O diabo é que não se vê no governo nenhuma
atenção para o enfrentamento do problema.
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