Pedetista tem assegurado que não abre mão
da disputa; unificação depende de entendimento entre governador e ex-juiz, que
admitem a ideia de composição futura
Adriana Ferraz / O Estado de S. Paulo
O fim das prévias tucanas serviu para
delimitar uma espécie de núcleo duro do centro político para a disputa
presidencial de 2022. Expandido por mais sete pré-candidaturas, a chamada
terceira via tem agora três postulantes que trabalham efetivamente para liderar
uma candidatura: Ciro Gomes (PDT), Sérgio Moro (Podemos) e João Doria (PSDB).
Ciro e o PDT têm assegurado que não abrem mão da disputa. O governador paulista e o ex-juiz da Lava Jato admitem a ideia de composição futura. Ambos, porém, esperam arregimentar apoios, demonstrando até o fim do primeiro trimestre do próximo ano que seus projetos possuem mais perspectiva de poder.
O tucano conta com uma vantagem: segue no
comando do Estado mais rico do País até abril, quando, por força de lei, terá
de se desincompatibilizar. Nesses quatro próximos meses, Doria pretende
inaugurar estações de metrô e trechos de rodovias, anunciar investimentos
internacionais, assinar novas concessões e, claro, nacionalizar ainda mais seu
discurso, além de refazer pontes para atrair novos e antigos aliados.
Ao Estadão, o tucano disse que pretende
conversar com outras lideranças da chamada terceira via assim que voltar de sua
viagem oficial para os EUA (mais informações nesta página). “Quero me reunir,
primeiro, com os outros pré-candidatos do PSDB, Eduardo Leite e Arthur
Virgílio, e com o presidente do partido, Bruno Araújo. Em seguida, vou procurar
os presidentes dos partidos do nosso campo para conversar”, afirmou o
governador.
Enquanto Doria planeja os próximos passos,
Moro segue rodando o País: anunciou agendas em São Paulo, Brasília, Curitiba e
Porto Alegre. Apesar de abandonar a toga para integrar o governo de Jair
Bolsonaro como ministro da Justiça, ele quer se apresentar como o “novo” na
política, aliando ao combate à corrupção as bandeiras de responsabilidades
fiscal, ambiental e social.
Segundo representantes do Podemos, um dos
focos da articulação será a busca por apoio entre os evangélicos, por meio do
principal braço político do segmento, o Republicanos. Visto por adversários
como o nome mais à direita desse grupo, Moro vai tentar avançar em pautas ditas
conservadoras, onde Bolsonaro até agora tem falhado em cumprir parte de suas
promessas.
POLARIZAÇÃO. Com Doria, Moro e Ciro já mais avançados sobre o eleitorado de centro, a almejada candidatura única fica mais distante. Apesar disso, o ex-tucano Luiz Felipe d’avila (Novo) disse ao Estadão que espera “espírito público” de Doria para seguir trabalhando por esse objetivo.
Ao menos nesse ponto, d’avila e Ciro têm
discursos semelhantes, de que é preciso unir forças para evitar a polarização
no segundo turno entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e
Bolsonaro. Mas o pré-candidato do PDT, nesse momento, está mais distante das
conversas sobre o afunilamento do centro.
Com a entrada de Moro na disputa, a
tentativa de Ciro de puxar para si partidos como o DEM e o PSL ganha um
concorrente de peso. Se vingar, o futuro União Brasil (fusão das duas siglas)
já virou alvo também do Podemos, além de estar na lista de Doria.
TEMPO. Para o presidente nacional do PSL, deputado Luciano Bivar (PE), no entanto, é preciso dar tempo ao tempo. “O que se sabe apenas é que nenhuma candidatura vai vingar sozinha.” Presidente do Cidadania, Roberto Freire segue a mesma linha e disse que os nomes para 2022 estão colocados. “Resta saber é quem serão os protagonistas. A tendência é de afunilamento em torno dessas candidaturas, especialmente Doria, Moro e Ciro.”
O cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, afirmou que “o mercado eleitoral está muito competitivo com a entrada de Moro”. “O vencedor das prévias tucanas é um dado secundário diante dos desafios estruturais que o PSDB enfrenta. Existe a janela de oportunidade para recuperar o status, mas não há sinais de que o partido aprendeu lições no pós-lava Jato. Há uma perda de identidade e uma permanente falta de coesão das lideranças nacionais frente ao governo Bolsonaro.”
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