O Estado de S. Paulo
O debate sobre o combate à corrupção
qualifica as eleições de 2022
Alguns têm argumentado que a entrada de
Sérgio Moro na corrida presidencial traria novamente o tema do combate à
corrupção para o centro do debate público, o que supostamente seria
contraproducente, diante de problemas mais urgentes a serem enfrentados pelo
Brasil, como desenvolvimento econômico, inflação e inclusão social.
É como se o combate à corrupção fosse
eminentemente um problema moral e não houvesse correlação entre os resultados
de políticas econômica e social e comportamentos predatórios de governantes.
Entretanto, como mostro no quarto capítulo do livro Making Brazil Work: Checking the President in a Multiparty System, governos que vivem em ambientes politicamente competitivos e sob fortes restrições de organizações de controle robustas e independentes apresentam melhor desempenho econômico e social do que governos não controlados.
A pesquisa analisou o impacto da robustez
institucional das organizações de controle (tais como governança das agências
reguladoras, atuação dos tribunais de contas, eficiência e independência do
Judiciário e do Ministério Público, controle dos meios de comunicação pelos
políticos etc.) e da competição política em um conjunto de dimensões que
mensuram o desempenho das políticas públicas nos Estados, como por exemplo, déficit
primário, gasto com servidores públicos, eficiência do gasto público e até a
variação da riqueza dos políticos.
Os resultados indicam que competição
política só é virtuosa quando as organizações de controle são robustas e
independentes. Fica claro que a qualidade institucional das organizações de
combate à corrupção restringe efetivamente a propensão histórica de governantes
brasileiros de incorrerem em déficit primário e de aumentarem os gastos com
servidores, especialmente por meio de novas contratações em anos eleitorais. Os
resultados também mostram que, diante de organizações de controle fortes e
independentes, a eficiência do gasto público melhora substancialmente, além de
haver um menor crescimento da riqueza dos políticos.
Ou seja, freios e contrapesos robustos
geram um impacto virtuoso no comportamento de governantes. Tanto a oferta de
bens públicos aumenta, como também há uma diminuição de bens privados e de
corrupção.
Portanto, o debate sobre combate à corrupção decorrente do fortalecimento das organizações de controle é ancilar aos demais temas considerados prioritários e deveria ser privilegiado por qualquer candidato que pretenda disputar a Presidência em 2022.
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