O Estado de S. Paulo
Com as expectativas para o IPCA subindo, BC terá de endurecer o aperto monetário
O
repique inflacionário, mais persistente e em maior magnitude do que se
imaginava, segue surpreendendo o mercado a ponto de as projeções de analistas
para o índice de preços ao consumidor em 2022 ameaçarem superar o teto da meta
de inflação também no ano que vem. Para 2021, já se espera que esse teto seja
estourado por larga margem.
A
preocupação é que o choque nos preços causado pela pandemia de covid, que
provocou interrupções nas cadeias produtivas globais, gerando gargalos na
oferta de bens, não arrefeceu o suficiente para acomodar a crescente pressão
nos preços de setores ligados à retomada da economia com o avanço da vacinação,
como serviços.
No último índice de inflação, o consenso das estimativas ficou muito aquém do resultado final: o IPCA-15 de outubro subiu 1,2%, enquanto o mercado esperava alta de 1%. Após esse índice, houve uma rodada de revisões para cima das estimativas da inflação para o ano de 2021, com várias projeções ao redor de 10%. É bom lembrar que o teto da meta de inflação deste ano é 5,25%.
A
expectativa de muitos analistas era de que, com um ritmo mais acelerado de alta
de juros, o BC conseguisse manter as estimativas de inflação para 2022 sob
controle. Essa tarefa ficou bem mais difícil depois que o governo admitiu sua
intenção de desrespeitar a regra do teto de gastos, a única âncora fiscal do
Brasil, para garantir um benefício do programa Auxílio Brasil de R$ 400 até
dezembro de 2022.
E,
quando há dúvidas sobre a sustentabilidade fiscal, as expectativas
inflacionárias disparam: o abandono do teto de gastos levaria a um aumento na
dívida pública, forçando o BC a fazer emissões monetárias para financiá-la.
Resultado: inflação maior.
Mas
o resultado do IPCA-15 mostrou ao mercado que o descontrole nos preços já vinha
acontecendo antes mesmo de o governo decidir furar o teto de gastos. Agora, há
uma tempestade perfeita à vista: inércia inflacionária, abandono da âncora
fiscal e incertezas com a eleição presidencial de 2022.
Não
à toa, a mediana das projeções de inflação em 2022 está em 4,55% e migra
rapidamente em direção ao teto da meta no ano que vem, de 5%. Pior: os
economistas que mais acertam essas projeções do IPCA – o chamado Top 5 de curto
prazo – na pesquisa Focus já esperam inflação de 5,22%.
Com
a inflação em fuga e expectativas subindo, o BC deverá ser forçado a fazer um
aperto monetário mais duro, levando a taxa Selic para entre 10% e 12% em 2022.
Um remédio amargo demais que pode jogar a economia para a recessão.
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