O Globo
A cada três décadas, o Brasil elege um
salvador da pátria que promete acabar com a corrupção. Em 2018, Jair Bolsonaro
reciclou o discurso moralista de Fernando Collor em 1989. Os dois seguiram a
trilha de Jânio Quadros, fenômeno eleitoral de 1960.
Jânio subia ao palanque com uma
vassourinha. Prometia usá-la para varrer a bandalheira da política. Como Collor
e Bolsonaro, elegeu-se por um partido de aluguel, o PTN. A sigla foi extinta na
ditadura, ressurgiu na democracia e mudou o nome para Podemos. Na semana que
vem, lançará Sergio Moro como pré-candidato ao Planalto.
O ex-juiz se projetou com a imagem de
caçador de corruptos. Depois abandonou a toga, virou ministro e caiu em
desgraça ao romper com Bolsonaro e ter sentenças anuladas pelo Supremo. Ontem
ele começou a distribuir convites para o ato de filiação. Escolheu o Dia de
Finados para tentar ressuscitar na cena política.
Moro disputará espaço na terceira via, que hoje tem muitos candidatos e poucos votos. No fim de setembro, ele apareceu com 5% numa pesquisa do Ipec. Amargou um modesto quarto lugar, bem atrás de Lula (45%) e Bolsonaro (22%) e embolado com Ciro Gomes (6%).
Fãs de Moro dizem que ele pode furar a
polarização entre o atual presidente e o ex. Mas duas rejeições não bastam para
fazer um candidato. Além disso, pesquisas mostram que a corrupção desabou no
ranking de preocupações do eleitor. E o ex-juiz só conta com a memória desbotada
da Lava-Jato.
Detestado por petistas e bolsonaristas, o
presidenciável não terá vida fácil em 2022. Precisará explicar a tabelinha
ilegal com procuradores, o desempenho pífio como ministro e a atuação nebulosa
como consultor. Além da decisão de concorrer por um partido de má fama.
No domingo, o jornal O Estado de S.Paulo
começou a expor os rolos do Podemos. A presidente da sigla é investigada por
lançar candidatas laranjas. O secretário-geral recebeu dinheiro vivo no
mensalão do DEM. Antes de convidar o ex-juiz, a legenda apostou em personagens
como o ex-jogador Romário e a dançarina Mulher Pera. Moro precisará da
vassourinha para esconder os novos aliados embaixo do tapete.
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