Auxiliares avaliam que senador, cotado para
a chamada terceira via de 2022, pode tentar impulsionar agenda própria na Casa
Marianna Holanda, Ricardo Della Colleta / Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - A
filiação ao PSD do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), e as especulações
sobre sua intenção de disputar as eleições presidenciais de 2022 acenderam um
alerta no Palácio do Planalto em relação a possíveis impactos na pauta
governista no Congresso Nacional.
Interlocutores do presidente Jair
Bolsonaro (sem partido) temem que o senador adote cada vez mais uma
postura de candidato e que, consequentemente, projetos importantes para o
governo fiquem prejudicados na Casa. Hoje, o Senado é o maior obstáculo da
articulação política do governo.
Pacheco se filiou ao PSD em 27 de outubro,
movendo mais uma peça no xadrez eleitoral de
2022 para se tornar um eventual adversário do presidente. A cerimônia,
com toda a pompa de "terceira via" e críticas do senador à
polarização Lula x Bolsonaro, chamou a atenção de interlocutores do presidente.
"Estamos cansados de viver em meio a tanta incerteza, a tanta incompreensão e intolerância. Uma sociedade dividida, em que cada um não admite o contrário e não aceita a existência do outro, nunca irá chegar a lugar algum", afirmou o senador, no ato de sua filiação.
Desde que Davi Alcolumbre (DEM-AP), então
aliado de Bolsonaro, deixou
a presidência da Casa e se desentendeu com o governo por causa de promessas e
emendas, a base governista no Senado ficou desorganizada.
Ainda
que Pacheco tenha sido eleito com aval do Planalto e Alcolumbre, o senador
tem atuado de forma independente à frente do Senado. Um ministro de Bolsonaro
chamou-o de "quiabo mineiro", escorregadio.
A pauta do governo no Senado tem enfrentado
dificuldades desde o início do ano.
Interlocutores de Bolsonaro dizem ser
impossível ter previsibilidade de qualquer votação na Casa. O Senado causou
ainda meses de desgaste para o Planalto durante o funcionamento da CPI da Covid.
É também nessa casa legislativa onde Alcolumbre
tem bloqueado a sabatina do ex-advogado-geral da União André Mendonça
para uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal).
Também em 27 de outubro, durante entrevista
à rádio Jovem Pan, Bolsonaro disse que Pacheco é "o dono" da pauta no
Senado e cobrou que ele coloque matérias em votação.
"Quem é o dono da pauta no Senado é o
senhor Rodrigo Pacheco. É ele que tem que botar em pauta [os projetos], assim
como quem tem que botar em pauta a possível ida para o Supremo Tribunal Federal
do André Mendonça é o senhor Davi Alcolumbre", declarou.
Conselheiros de Bolsonaro avaliam que
Pacheco pode tentar impulsionar uma agenda própria no Senado caso decida se
candidatar ao Planalto. Caso isso ocorra, a articulação política no Senado, que
já é ruim, poderia ficar ainda mais prejudicada.
A reforma do Imposto de Renda, que era
vital para o pagamento do Auxílio Brasil, enfrenta forte resistência no Senado
e está parada na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos). O Marco das Ferrovias e
a privatização dos Correios também caminham a passos lentos.
Governistas esperavam ainda que Pacheco
levasse para plenário a sabatina Mendonça para o STF, o que não ocorreu.
O ministro da Economia, Paulo Guedes,
cobrou o presidente do Senado no último dia 24 para dar celeridade às reformas
que estão na Casa. Disse que Pacheco precisa ajudar o governo se quiser
se "viabilizar
como uma alternativa séria".
"O presidente do Senado se lança agora
à presidência da República. Se ele não avançar com as reformas, como é que vai
defender a própria candidatura dele? Ele precisa avançar com as reformas,
precisa nos ajudar a fazer as reformas. Ele não pode fazer militância também, e
eu tenho certeza que ele não vai fazer", afirmou o ministro.
"Então se ele quiser se viabilizar
politicamente como uma alternativa séria, ele precisa ajudar o nosso governo a
avançar com as reformas", completou Guedes.
Em resposta, Pacheco disse que "não há
hipótese alguma de fazer qualquer tipo de militância política ou de se
antecipar uma discussão de disputa presidencial em 2022", por saber a
"dimensão e a responsabilidade" do cargo que ocupa.
"A gente quer chegar num denominador
comum e pode ser que ideias divergentes aconteçam no meio do caminho",
completou, mencionando reforma tributária, auxílio emergencial e a PEC dos
Precatórios.
Por outro lado, há também ministros do
governo que não acreditam que Pacheco apresentará obstáculos para o Planalto na
Casa. Primeiro, porque sua candidatura ainda não é considerada algo certo.
Segundo, e mais importante, porque o
governo avalia que Pacheco teria sua imagem pública prejudicada caso passasse a
usar o cargo de presidente do Senado para obter benefícios eleitorais.
Assessores palacianos também destacam que, caso decida se candidatar, Pacheco deve defender propostas liberais na economia —e portanto estaria pouco disposto a atuar contra proposições do Planalto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário