terça-feira, 2 de novembro de 2021

Moro chega ao Brasil para trabalhar pré-candidatura

Ex-ministro quer pacto com os candidatos da terceira via

Por Isadora Peron e Marcelo Ribeiro / Valor Econômico

BRASÍLIA - Lideranças do Podemos começaram a preparar a pré-candidatura de Sergio Moro à Presidência da República. O mais provável é que o lançamento ocorra no dia 10 de novembro, quando está marcada uma cerimônia em Brasília para filiar o ex-juiz da Lava-Jato à sigla. Antes tratada com parcimônia, a disposição do ex-ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro de entrar na disputa e encarnar o papel da terceira via passou a ser abordada de maneira direta por integrantes da legenda.

Moro desembarca no Brasil hoje, depois de uma temporada nos Estados Unidos, com o objetivo de colocar de pé a sua candidatura ao Palácio do Planalto. Isso, no entanto, não será feito a qualquer custo. Como ainda falta algum tempo até a eleição, a ideia do ex-ministro é fazer um “pacto” com os demais candidatos da terceira via.

Esse acordo passaria até mesmo pela possibilidade de ele abrir mão da cabeça de chapa com o objetivo de fortalecer o nome que tivesse mais chance de quebrar a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Moro tem conversado sobre o assunto com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que deve se filiar ao novo União Brasil.

Também do Paraná, o senador Oriovisto Guimarães (Podemos) tem sido um dos principais interlocutores do ex-ministro. Segundo ele, Moro tem mantido contado com diferentes atores, inclusive da área econômica. O parlamentar evita falar sobre o perfil do vice da futura chapa - e diz que isso, além de ser uma escolha do candidato, só será definido mais para frente. Outros aliados de Moro, no entanto, ponderam que o ideal seria um nome da política tradicional, para quebrar a resistência que o segmento tem do ex-juiz da Lava-Jato.

Outra preocupação do Podemos é que Moro não pode ser visto como um candidato de bandeira única - o combate à corrupção - e que precisará começar a falar de outros temas, especialmente de economia. Para Oriovisto, sobre esses assuntos ele sequer precisaria falar, porque todo mundo já sabe, por exemplo, que o ex-ministro é a favor da prisão após a condenação à segunda instância.

Internamente, a avaliação de lideranças da legenda é que, hoje, Moro é o nome que mais tem condições de tirar Bolsonaro do segundo turno. Caso ele consiga superar o atual presidente, a aposta é que o ex-juiz atraia o apoio de toda a direita, além dos votos do eleitorado lavajatista e antipetista.

Neste primeiro momento, além de eventos do novo partido, Moro também vai rodar o Brasil para lançar o seu livro, que traz bastidores da Lava-Jato e da sua passagem pelo governo Bolsonaro. Ele vai passar por Curitiba, Rio e São Paulo e Recife.

A obra, batizada de “Contra o sistema de corrupção”, chega às livrarias no início de dezembro. Depois de 22 anos como juiz federal, Moro deixou a carreira em novembro de 2018 para assumir o Ministério da Justiça e Segurança Pública. A passagem pela política, porém, foi mais curta do que o planejado, e ele deixou o governo em abril de 2020, acusando Bolsonaro de interferir na Polícia Federal para blindar amigos e familiares de investigações.

Procurado pelo Valor, Moro não se pronunciou até o fechamento desta edição.

 

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