O Globo
É preciso esperar para ver como o pastor
André Mendonça vai se comportar no Supremo Tribunal Federal. Mas o responsável
por sua escolha não esconde a euforia. Conta com um despachante que cumpra suas
ordens na mais alta corte do país.
Às vésperas da posse do novo ministro, o
capitão resolveu antecipar sua decisão no julgamento do marco temporal. “Nós já sabemos que o André
vai ser um voto para o nosso lado”, afirmou, em entrevista à Gazeta do Povo.
O julgamento foi interrompido em setembro
com o placar em 1 a 1. Edson Fachin votou contra a adoção do marco, que
legaliza o roubo de terras indígenas até 1988. Kassio Nunes Marques votou a
favor da tese, que beneficia grileiros e madeireiros.
Bolsonaro disse ao jornal paranaense que Mendonça defendeu o marco quando atuava como ministro da Justiça e advogado-geral da União. Isso já seria suficiente para que o novo ministro se declarasse impedido de julgar o caso. Mas o histórico recente do Supremo sugere que a decisão caberá ao próprio pastor.
Alguns juízes da Corte têm uma visão peculiar
das regras de impedimento e suspeição. Dias Toffoli se sentiu livre para votar
pela absolvição de José Dirceu, seu antigo chefe no governo Lula. Gilmar Mendes
foi padrinho de casamento da filha de Jacob Barata e deu três habeas corpus
para tirá-lo da cadeia.
O rei dos ônibus não pode reclamar da
sorte. Nesta terça, o Supremo arquivou denúncia que o acusava de evasão de
divisas. Barata foi preso quando tentava embarcar com maços de euros, dólares e
francos suíços, mas Gilmar disse ver “ausência de ofensividade da conduta do
paciente”.
O presidente não tem pudores ao dizer o que
espera de seus indicados ao tribunal. Já descreveu Nunes Marques como “10% de
mim dentro do Supremo”. Os votos e as manobras do ministro mostram que ele tem
motivo para estar satisfeito.
Na semana passada, Bolsonaro sugeriu que Nunes Marques e Mendonça farão uma dobradinha governista na Corte. “Tem dois ministros que representam, em tese, 20% daquilo que gostaríamos que fosse decidido e votado”, declarou. O capitão errou na conta (dois ministros somam 18% do tribunal), mas parece estar certo do que vem por aí.
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