O Estado de S. Paulo / O Globo
PEC dos Precatórios mostrou que, mais uma
vez, o rolo compressor montado pelo Centrão na Câmara não pôde ser replicado no
Senado
Mesmo quem, agarrado ao autoengano, ainda
se esforçava para tentar detectar um mínimo de seriedade na gestão da política
fiscal, não pôde deixar de ver com apreensão a afobação que se viu nesta
semana, em Brasília, com a PEC dos Precatórios.
Já há algum tempo, o plano de jogo era mais do que sabido. Tendo em vista as urgências eleitorais do Planalto e do Centrão, o governo entendeu que já não teria mais condições de preservar a integridade do regime fiscal em vigor. E pôs em marcha a aprovação de uma PEC que, a um só tempo, permitiria “flexibilizar” o teto de gastos e impor gigantesco calote a dívidas judiciais a partir de 2022.
O que ficou claro, agora, é que a
implementação do plano se mostrou bem mais problemática do que se imaginava. E,
com o benefício da visão retrospectiva, é fácil perceber que sua implementação
não era mesmo nada trivial. Longe disso. Teria sido um desafio de grande
complexidade em qualquer circunstância. Mais complexo ainda com a votação de
uma PEC em dois turnos, a toque de caixa, no apagar das luzes do ano
legislativo.
Mais uma vez, o rolo compressor montado pelo Centrão na Câmara não pôde ser replicado no Senado. Não é que tenha havido grande resistência à “flexibilização” do teto e ao calote. Mas o texto que, afinal, pôde ser aprovado discrepou, em boa medida, do que fora aprovado na Câmara.
Em condições normais, a PEC teria de voltar
a ser submetida à Câmara. Era o que, na segunda-feira, parecia defender o presidente do Senado, que
ainda resistia às pressões do presidente da Câmara por imediata promulgação das
partes comuns dos textos aprovados nas duas Casas.
Diante do impasse, o Planalto, alarmado com
o encerramento do ano legislativo, apressou-se a deixar claro que estava
determinado a pagar o Auxílio
Brasil de R$ 400, a partir de dezembro, de qualquer jeito. Caso
não houvesse promulgação da PEC, o pagamento seria feito por fora do teto de
gastos. Mas, já na noite de terça-feira, anunciou-se que o Senado, afinal, concordara com
uma promulgação parcial da PEC.
O resto dependerá de duas novas votações na
Câmara. Para evitar que os pontos alterados no Senado tenham de ser submetidos
à Comissão de Constituição e Justiça e à Comissão Especial, o que se contempla
é que sejam apensados a outra PEC que já está pronta para ser votada em
plenário. Ainda não se sabe em que medida tais expedientes para agilizar a
aprovação da PEC poderão ser objeto de contestações judiciais.
O desmantelamento do regime fiscal está
dando trabalho.
*Economista, doutor pela Universidade Harvard, é professor titular do departamento de economia da PUC-Rio
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