Valor Econômico
Petista cresce e adversários variam na
margem de erro
Só existe um movimento nas pesquisas em
2021: o crescimento de Luiz Inácio Lula da Silva. De resto, nada de novo no
front. O Datafolha de ontem trouxe Lula com 48%, Bolsonaro com 22%, Sergio Moro
com 9%, Ciro Gomes com 7% e João Doria com 4%. Em maio, Lula tinha sete pontos
a menos, Bolsonaro um, Moro dois, Ciro um e Doria um. Havia outros candidatos e
a comparação é imperfeita, mas o quinteto estava lá.
O Datafolha é uma pesquisa presencial. Lula
costuma pontuar mais alto em pesquisas assim do que nos levantamentos feitos
por entrevistas telefônicas. Mas a curva, que é o que importa, tem sido
rigorosamente a mesma, independentemente do método.
Em 12 de março deste ano, quatro dias
depois de Lula da Silva recuperar seus direitos políticos, a pesquisa XP/Ipespe
mostrava Bolsonaro na liderança eleitoral, com 27%, o petista com 25%, Moro
10%, Ciro 9% e Doria 3%. No dia 26 de novembro, a rodada da pesquisa trazia
Lula na liderança com 15 pontos a mais e todos os outros quatro variando na
margem de erro.
Com um detalhe, lembrado pelo cientista político Antonio Lavareda, do Ipespe: a rejeição a Lula não mudou ao longo do ano. Segundo o Ipespe, 47% dos pesquisados diziam em abril que a probabilidade de votarem em Lula era nenhuma. Sete meses depois, o percentual é 45%. No Datafolha, a rejeição é medida de modo diferente, com múltipla escolha pelo pesquisado. O percentual contra Lula é menor, mas também estável no longo prazo. Era 36% em maio e é 34% agora. Bolsonaro foi de 54% para 60%.
A rejeição de Lula foi superada por um
fenômeno avassalador: a rejeição a Bolsonaro. É evidente que Lula, e apenas
Lula, está se beneficiando do aumento do desgaste de Bolsonaro. E o presidente
perde o antipetismo, sem que este espólio seja capturado pela terceira via.
Segundo Lavareda, a explicação está na
origem política dos candidatos e nas afinidades eletivas que estabeleceram.
Moro é ex-ministro de Bolsonaro e Doria é ex-eleitor. Não capturaram o
antibolsonarismo. “O problema é que campanha eleitoral é colheita. O candidato
mobiliza opiniões previamente formadas”, diz o cientista político. Guinadas não
são fáceis, portanto.
No caso de Ciro, o pedetista optou por ir
para cima de Lula assim que o petista voltou ao palco. Fez isso com mais
empenho do que Doria, ao passo que Moro acabou de entrar em cena. Ciro está no
guarda-chuva da esquerda há muitos anos. Não captura o antipetismo e parou de
buscar o antibolsonarismo, no que talvez tenha sido um erro estratégico.
Isso significa que o espaço para a terceira
via acabou? “Não ache que é impossível o que apenas improvável lhe parece”, diz
Lavareda, citando Shakespeare. O fato é que há um vão entre os que rejeitam
Lula e o eleitorado de Bolsonaro. Isso não permite que a especulação sobre
chances da terceira via se feche.
O outro fator que explica a subida de Lula
pode ser entendido também com a leitura da segunda parte dessa coluna.
Virada de
clima
A reação geral à operação policial que
atingiu na quarta-feira o presidenciável do PDT, Ciro Gomes, mostrou que não há
mais o mesmo ambiente de aceitação social dos métodos consagrados pela
Lava-Jato que existia até pouco tempo atrás.
Hoje ações do Judiciário e da Polícia
contra potenciais candidatos em temporada pré-eleitoral são vistas com mais
desconfiança de serem guiadas por propósitos políticos obscuros, e o desenrolar
do caso Lula favoreceu o crescimento dessa suspeição. O advento do governo
Bolsonaro a cristalizou.
Bolsonaro pode ter aparelhado a Polícia
Federal e ter sua rede de aliados dentro do Judiciário. São abundantes indícios
nesse sentido. Mas se o que houve na quarta-feira contra Ciro e Cid foi produto
de uma conspiração política, não funcionou.
Não se entra aqui no mérito da investigação
que embasou a decisão de quebras de sigilos constitucionais e os mandados de
busca de apreensão. A consistência das suspeitas contra os pedetistas é tema
para outro debate. A questão é que o impacto dos fatos na sociedade foi
diferente dos exemplos vivos na memória de todos.
Não houve o protagonismo dos investigadores
que empolgou o país na década passada. Quem passou o dia recebendo holofotes
foram os próprios alvos da operação, e não faltaram demonstrações de
solidariedade a Ciro. Foram de Lula a Doria, passando pelo Cabo Daciolo.
Esta reversão de percepção pode ser uma boa
notícia para todos os candidatos que forem alvos de denúncias de corrupção no
próximo ano, mas há uma questão em aberto: o vendaval pelo qual o Brasil passou
nos últimos tempos deixou algum saldo que impeça a volta dos esquemas de
corrupção que vieram à luz na década passada? Sobre a existência desses
esquemas, poucas dúvidas existem.
A resposta para esse ponto não é simples.
Há indícios de que caminhou-se alguma coisa. Foram criados instrumentos que
tornam mais difícil a mesma peça ser encenada.
Ainda que diluída pelo Congresso, a lei
anticorrupção de 2019 responsabiliza pessoas jurídicas que se envolvem em
descaminhos. O financiamento de empresas a candidatos foi vedado. O nepotismo
foi coibido. O lavajatismo virou um estigma, mas a estrutura de repressão à
criminalidade não foi propriamente desmantelada.
Um sinal disso é a busca da regularização
da atividade de lobby por grandes empresas, antes mesmo do envio da proposta do
governo que busca alinhar o país com as práticas estabelecidas pela OCDE. Hoje
nada menos que 357 lobistas de entidades de classe e 597 representantes de
órgãos públicos estão credenciados pela Câmara, uma razão de 1,86 profissional
por parlamentar, segundo levantamento da Associação Brasileira de Relações
Institucionais e Governamentais (Abrig).
“Esta busca espontânea de transparência foi
pelo temor das empresas de se confundirem com a prática de crimes. Há um
esforço das grandes empresas em demonstrarem integridade” comentou o advogado
paulista Sérgio Rosenthal, que defendeu grandes brancos em operações como a
Zelotes. Para ele, “com o fim da Lava-Jato, a atividade investigativa se
reduziu, mas o controle aumentou”.
A legislação, contudo, nunca impedirá a
prática de crimes. A cultura social é a baliza mais importante para aferir se
os controles serão ou não efetivos, e, neste sentido, os dias são de
retrocesso. A fase pela qual o Brasil passa nesse momento é toda ela
anti-institucional. Tudo é guerra política, e pesará sobre os fiscais da lei a sombra
da suspeita.
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