Folha de S. Paulo
Cerca de 60% do eleitorado não votaria de
jeito nenhum no presidente
A rejeição a
Jair Bolsonaro (PL) parece o fato mais relevante do Datafolha sobre
a eleição de presidente. Faltam pouco mais de nove meses para o primeiro turno,
ainda haverá dança de candidatos e, não raro, os números de dezembro se
desfazem ao longo do ano eleitoral. Por ora, de mais importante, a pesquisa
mostra que Bolsonaro perde para si mesmo quando fica sozinho no palco.
Em segundo lugar, o Datafolha mostra que os
candidatos de terceira ou
quinta via não fazem cócegas nos líderes da disputa, Lula e esse
tipo que ocupa a cadeira de presidente.
A questão decorrente é o que Bolsonaro vai aprontar no desespero, caso a grande repulsa persista até meados do ano que vem. O governismo tem poucos recursos políticos decentes ou normais para reverter a situação.
À beira de 2022, 60% dos eleitores dizem
que não votariam
"de jeito nenhum" em Bolsonaro. Entre os mais pobres, com
renda familiar menor do que dois salários mínimos, a rejeição é de 64%. Na
região em que no momento causa menos repulsa, a Sul, a rejeição é de 54%. Caso
vá para o segundo turno, Bolsonaro perde até para João Doria (46% a 34%), que
marca apenas 3% ou 4% na votação de primeiro turno.
Lula (PT) e Doria (PSDB) são rejeitados por
34%. Sergio Moro (Podemos), por 30%.
Como a rejeição a Bolsonaro poderia
diminuir (o que significa convencer mais pobres de que não é repulsivo)? O que
fará se continuar tão derrotado lá por meados do ano que vem?
O governismo espera que o
Auxílio Brasil dê alguns pontos a Bolsonaro. O fim do auxílio
emergencial para uns 20 milhões de pessoas, porém, deve tirar outro tanto. No
"tudo pelo social", tem quase nada mais a tirar da cartola.
Na melhor das hipóteses, a taxa de inflação
deve diminuir, mas o estrago acumulado da carestia, não (não haverá aumento de
salário relevante). Mais gente deve estar empregada no ano que vem, mas o
crescimento do emprego será bem menor do que o deste 2021 e, na prática, muito
ganho virá de bicos, outros improvisos e arranjos desesperados.
A conversa de Bolsonaro terá de ser a de
costume: mentiras criminosas, propaganda caluniosa de conspiração comunista,
contra a família, contra o "nosso grande Brasil" e acusações gerais
de corrupção (mesmo que, até lá, apareça algum resultado dos processos sobre
rachadinhas ou Bolsolão). A campanha imunda viria, claro, por meio de
tentativas de fraudar os limites legais de uso das redes sociais.
Pode ser que a sujeira funcione.
Considere-se ainda que haverá tentativas outras de triturar Lula na campanha, a
não ser que o petista consiga fazer o seu acordo com o "centro". Por
ora, tal arranjo se resume à tentativa de repetir o
truque do "vice confiável" (Geraldo Alckmin). Mas, tanto
para enfrentar a campanha e, muito mais sério, para governar, o acordo terá de
ser muito mais amplo e fundamentado. O risco de naufrágio precoce de qualquer
governo e do país, já em 2023, é enorme.
Enfim, pergunta que não é de todo gratuita,
é possível que, em vez de Lula conseguir aliados, se forme uma coalizão contra
o petista, com extrema-direita, com tudo?
No caso de continuar repugnante para a
maioria, Bolsonaro iria até o fim? Acreditaria que poderia virar o jogo com
alguma fraude digital ou revolta incitada contra seu adversário, mais provavelmente
Lula? Mesmo se estiver à beira de nem ir para o segundo turno? Tentaria uma
medida desesperada, uma confusão político-policial-militar qualquer, violência?
Ou começaria a pensar que, derrotado, não é tão pequeno o risco de que ele,
filhos e seus comparsas generais passem pelo menos uns dias na cadeia? Até
Michel Temer, o "pacificador nacional", ficou um tempo de molho.
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