O Estado de S. Paulo
Pôr um general no TSE reduz ataques às eleições e ameaças de golpes à la Trump
Com o ex-presidente Lula chegando perto de
50% das intenções de voto e o presidente Jair Bolsonaro empacando em 21% a 22%,
segundo o Ipec e o Datafolha, o mundo político e jurídico volta a temer, e a
discutir seriamente, o risco de um golpe contra o resultado das urnas. Algo à
la Trump, com ataques reais ao Congresso ou ao Supremo.
Assim, foi uma jogada de mestre, articulada
pelos ministros Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Edson Fachin, a
escolha do general Fernando Azevedo e Silva para a direção-geral do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) no ano das eleições. Ele é da turma de Bolsonaro no
Exército, mas um chegou ao posto máximo, o outro foi repelido ainda jovem.
General de quatro-estrelas da reserva, Azevedo e Silva foi ministro da Defesa e, ao contrário do também general Santos Cruz, não saiu atirando ao ser demitido pelo capitão Bolsonaro. Mas nunca saiu de Brasília, atento à situação. Rejeitou convites da iniciativa privada e até de políticos, mas não resistiu ao dever cívico de emprestar o nome, a credibilidade e a patente contra eventuais ameaças à democracia.
O presidente fez campanha e live contra as
urnas eletrônicas e é investigado pela PF por vazar um inquérito sigiloso sobre
invasão do sistema do TSE. (Atenção: não das urnas eletrônicas, que não são
conectadas à internet). Também participou de ato golpista com o QG do Exército
ao fundo e ameaçou não acatar decisão judicial e o resultado da eleição. E a
tropa bolsonarista nas redes? E Eduardo Bolsonaro com o “basta um cabo e um
soldado para fechar o STF”?
O general Augusto Heleno, chefe do Gabinete
de Segurança Institucional (GSI), disse que toma dois Lexotan na veia para não
estimular o golpe contra a Corte e jogou ao vento a hipótese de nova facada
contra Bolsonaro. A PF, aliás, já prepara um esquema especial para a proteção
“dos candidatos” (no plural?) em todos os Estados na campanha.
Logo, todo cuidado é pouco diante do risco
de Bolsonaro perder a reeleição e desafiar o resultado. O golpe contra as
vacinas não pegou, já o golpe contra as urnas eletrônicas jogou dúvidas no ar.
A população se imunizou em massa contra a covid, mas ele minou a confiança na
lisura da eleição entre seus seguidores.
Logo, é oportuno ter um general acima de
qualquer suspeita no TSE, como anteparo simbólico a aventuras golpistas e para
quem vê comunistas por toda parte e crê que vacinas causam aids, máscaras são
perigosas e as urnas eletrônicas são fraudulentas. Que venham as eleições e a
posse democrática do vitorioso, seja ele quem for.
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