sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Eliane Cantanhêde: Um General no TSE?

O Estado de S. Paulo

Pôr um general no TSE reduz ataques às eleições e ameaças de golpes à la Trump

Com o ex-presidente Lula chegando perto de 50% das intenções de voto e o presidente Jair Bolsonaro empacando em 21% a 22%, segundo o Ipec e o Datafolha, o mundo político e jurídico volta a temer, e a discutir seriamente, o risco de um golpe contra o resultado das urnas. Algo à la Trump, com ataques reais ao Congresso ou ao Supremo.

Assim, foi uma jogada de mestre, articulada pelos ministros Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Edson Fachin, a escolha do general Fernando Azevedo e Silva para a direção-geral do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no ano das eleições. Ele é da turma de Bolsonaro no Exército, mas um chegou ao posto máximo, o outro foi repelido ainda jovem.

General de quatro-estrelas da reserva, Azevedo e Silva foi ministro da Defesa e, ao contrário do também general Santos Cruz, não saiu atirando ao ser demitido pelo capitão Bolsonaro. Mas nunca saiu de Brasília, atento à situação. Rejeitou convites da iniciativa privada e até de políticos, mas não resistiu ao dever cívico de emprestar o nome, a credibilidade e a patente contra eventuais ameaças à democracia.

O presidente fez campanha e live contra as urnas eletrônicas e é investigado pela PF por vazar um inquérito sigiloso sobre invasão do sistema do TSE. (Atenção: não das urnas eletrônicas, que não são conectadas à internet). Também participou de ato golpista com o QG do Exército ao fundo e ameaçou não acatar decisão judicial e o resultado da eleição. E a tropa bolsonarista nas redes? E Eduardo Bolsonaro com o “basta um cabo e um soldado para fechar o STF”?

O general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), disse que toma dois Lexotan na veia para não estimular o golpe contra a Corte e jogou ao vento a hipótese de nova facada contra Bolsonaro. A PF, aliás, já prepara um esquema especial para a proteção “dos candidatos” (no plural?) em todos os Estados na campanha.

Logo, todo cuidado é pouco diante do risco de Bolsonaro perder a reeleição e desafiar o resultado. O golpe contra as vacinas não pegou, já o golpe contra as urnas eletrônicas jogou dúvidas no ar. A população se imunizou em massa contra a covid, mas ele minou a confiança na lisura da eleição entre seus seguidores.

Logo, é oportuno ter um general acima de qualquer suspeita no TSE, como anteparo simbólico a aventuras golpistas e para quem vê comunistas por toda parte e crê que vacinas causam aids, máscaras são perigosas e as urnas eletrônicas são fraudulentas. Que venham as eleições e a posse democrática do vitorioso, seja ele quem for.

 

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