Petista tem 48% no 1º turno, seguido do atual presidente (22%), Moro (9%) e Ciro (7%)
Mauro Paulino e Alessandro Janoni / Folha
de S. Paulo
(Diretor-geral do Datafolha e Diretor de
Pesquisas do Datafolha)
Tanto o favoritismo de Lula (PT) quanto
a manutenção dos índices de Jair
Bolsonaro (PL) nas pesquisas
Datafolha de intenção de voto para a eleição presidencial do
próximo ano têm um ponto em comum –o grau de fidelidade de segmentos significativos
do eleitorado de ambos os candidatos.
Os dois já partem de um patamar
cristalizado, de difícil conversão para outros nomes.
Para se ter uma ideia do desafio que a chamada terceira via enfrenta, o petista é lembrado na intenção de voto espontânea (sem a apresentação do cartão com os candidatos) por mais de um terço dos brasileiros, pouco menos do que Fernando Henrique Cardoso (PSDB) alcançava na pergunta estimulada em dezembro de 1997, ano anterior à sua reeleição em primeiro turno.
O atual presidente, por sua vez, é citado
espontaneamente por 18% dos entrevistados, taxa próxima à obtida por Aécio Neves
(PSDB) na pergunta estimulada de pesquisa feita pelo Datafolha
em novembro de 2013, cerca de um ano antes do tucano disputar um segundo turno
acirrado com Dilma Rousseff (PT).
Na composição das intenções de voto de
Lula, eleitores com renda de até dois salários mínimos têm peso superior em
quase dez pontos percentuais à participação do estrato no total da população.
Bolsonaro, por outro lado, encontra nos
homens sua força eleitoral –é o único candidato em que a ocorrência do segmento
masculino supera a do feminino de maneira significativa no perfil do
eleitorado.
No entanto esse apoio é insuficiente para
que o presidente deixe de protagonizar um fenômeno
raro para ocupantes do cargo em disputa pela reeleição.
Todos que concorreram a um novo mandato
desde a redemocratização estavam na frente nas pesquisas de intenções de voto
realizadas no final do ano anterior ao pleito.
Em 1997, FHC liderava
com mais de dez pontos de vantagem sobre o segundo colocado, Lula.
Em dezembro de 2005, o petista ficava oito
pontos à frente de Geraldo Alckmin na simulação em que o ex-governador de São
Paulo era o candidato do PSDB e, em 2013, mesmo depois dos protestos que
tomaram as ruas a partir de junho daquele ano, Dilma abria até 28
pontos de vantagem sobre Marina Silva (Rede) e Aécio Neves, em diferentes
situações.
A única exceção foi a liderança de José
Serra (PSDB) sobre Lula (PT) um ano antes da reeleição do petista. Serra, então
governador de São Paulo, acabou disputando a reeleição no estado e Alckmin foi o
tucano que concorreu à Presidência.
Os fatos ilustram a importância do cálculo
político no lançamento das candidaturas.
Por enquanto, nenhum dos outros candidatos
consegue se posicionar de maneira clara sobre o principal vetor de influência
na decisão do voto dos brasileiros até aqui –reverter consequências de uma
gestão desastrosa da pandemia e de seus reflexos sobre diferentes cenários do
país.
A rejeição de parcelas do eleitorado aos
dois principais nomes da disputa não é suficiente para alentar a terceira via,
até porque constitui um estrato de baixo peso quantitativo.
Segundo cálculo do Datafolha, apenas 9%
rejeitam tanto Lula quanto Bolsonaro. E entre eles, nenhum candidato consegue a
maioria dos votos –Sergio Moro (Podemos) recebe 40%, Ciro Gomes (PDT) 26%,
Doria (PSDB) 11% e os brancos e nulos batem a marca dos 22%.
Entre os que votaram em Bolsonaro em 2018, o ex-juiz até fica acima de sua
média, mas é superado inclusive por Lula. Moro é rejeitado por 36% do núcleo
mais fiel do bolsonarismo, índice superior em seis pontos à taxa verificada no
total da amostra.
Guardadas as devidas proporções, o quadro
nacional que se desenha até aqui lembra o primeiro turno da eleição municipal
do Rio de Janeiro no ano passado, independentemente do espectro político dos
envolvidos.
Um experiente ex-prefeito, arrolado na Lava
Jato, Eduardo Paes (então DEM) liderou a
corrida com folga do início ao fim, flertando com a vitória antecipada.
O então ocupante do cargo que tentava a
reeleição, Marcelo Crivella (Republicanos), rejeitado pela grande maioria dos
eleitores, passou para o segundo turno principalmente pela fidelidade de
evangélicos neopentecostais.
A terceira via que ameaçou decolar não se
sustentou e pulverizou-se entre Marta Rocha (PDT) e Benedita da Silva (PT).
Mas se nem na véspera da eleição é possível
prever resultados, quem dirá dez meses antes. O processo eleitoral é dinâmico,
todas as variáveis são passíveis de mudanças e o imponderável foi decisivo nos
últimos pleitos.
De tragédia aérea a atentado, passando pela prisão do líder nas pesquisas, eleição presidencial no Brasil não é para amadores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário