sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Bruno Boghossian: Efeito Moro

Folha de S. Paulo

Largada do ex-juiz reforça liderança do petista e expõe sinais de divisão na direita

A estreia de Sergio Moro na corrida presidencial não produziu o terremoto que seus apoiadores esperavam. Ao contrário, os primeiros números depois de sua largada consolidam a liderança de Lula e realçam fragilidades do ex-juiz e da candidatura de Jair Bolsonaro.

O petista aumentou sua vantagem sobre os adversários, segundo a nova pesquisa do Datafolha. Com 48% das intenções de voto, ele aparece com chances de vencer a disputa no primeiro turno. Lula tem mais que o dobro do índice de Bolsonaro e abriu uma margem significativa sobre o atual presidente entre eleitores de baixa renda: 56% contra 16%.

Os dados confirmam que o derretimento da economia favorece a candidatura do ex-presidente e sugerem que, até agora, nenhum oponente foi capaz de ativar o antipetismo como motor eleitoral.

Além de perder espaço para o petista entre os mais pobres, Bolsonaro agora tem um rival interno na direita. Moro ainda não conseguiu rachar esse eleitorado, mas começa a ocupar territórios que foram cruciais para a vitória do capitão em 2018.

Em sua primeira pesquisa como pré-candidato, o ex-juiz aparece com 15% das intenções de voto entre eleitores com renda superior a cinco salários mínimos. Neste segmento, o presidente caiu de 42% para 33% nos últimos meses.

Bolsonaro também foi desidratado por Moro no Sul e no Sudeste: perdeu sete pontos desde setembro nas duas regiões, enquanto o ex-juiz larga com dois dígitos por ali.

O impulso inicial de Moro pode ser considerado frustrante para um candidato já conhecido por 88% dos brasileiros, segundo o Datafolha. Mesmo no Sul, onde 91% dos eleitores dizem conhecer o ex-juiz, só 13% declaram voto nele no primeiro turno.

A nova pesquisa mostrou que Bolsonaro e Moro devem se acotovelar numa disputa pelo mesmo eleitorado —o que parece ser um obstáculo. Exemplo: numa simulação de segundo turno entre o presidente e Lula, o eleitorado do ex-juiz se divide entre os dois e o voto nulo.

 

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