Folha de S. Paulo
Possíveis ministros da Fazenda tornam-se
ativos nas campanhas eleitorais
Moro anunciou Pastore como conselheiro para
assuntos econômicos; Doria entronizou Meirelles no mesmo papel. Guedes vem
cumprindo o papel de posto Ipiranga de Bolsonaro. Economistas garantidores da
credibilidade de governos. Existe este papel em outros países?
Mark Hallerberg (Hertie) e Joachim Wehner
(LSE) investigaram a seleção de titulares de Ministérios da Fazenda e dos
Bancos Centrais em 40 democracias. A base de dados contém informação sobre 427
chefes de governo, 537 ministros da Fazenda e 212 presidentes de Banco
Centrais, e se estende por 50 anos.
A base revela surpresas: muitos ministros da Fazenda não são economistas. Gordon Brown, titular da pasta sob Tony Blair, era formado em história. Este padrão é mais frequente sob o parlamentarismo —sobretudo em governos de coalizão— no qual o gabinete é formado por parlamentares. Um quarto dos ocupantes da pasta possuía titulo de PhD em economia. Mas no Chile, na Polônia e no México, todos o possuíam; na Espanha, na Grécia e em Portugal, eram mais de 2/3. Quanto mais estável e rica a democracia, maior a probabilidade de não economistas e executivos financeiros no cargo.
Os chefes de governo têm preferência por
generalistas a especialistas porque teriam mais jogo de cintura em relação a
pressões políticas: no jargão, menor risco de "perdas de agência" na
relação agente x principal. Crises financeiras subvertem esta preferência. A
variável partidária é a decisiva: partidos socialistas têm déficit de
credibilidade, o que cria incentivos para nomearem titulares da Fazenda com PhD
em economia. A probabilidade que o façam aumenta 19% (22%, no caso de bancos
centrais). Por outro lado, durante crises, a probabilidade de nomeação de
alguém do mercado financeiro é 10 % menor, porque os custos políticos são
maiores.
A busca de credibilidade pelos partidos de esquerda gera problemas graves de accountability democrática porque o eleitorado depara-se com inconsistências claras entre discurso antimercado e prática.
Grosso modo, a experiência brasileira é consistente com estes achados. Dilma
nomeou um economista com PhD pela Universidade de Chicago para a Fazenda.
Mas Lula fugiu a regra: nomeou um CEO do Bank of Boston para o Bacen em meio a
uma crise —o que poucos governantes à direita ousariam fazer— e um médico para
a pasta. Temer nomeou o mesmo CEO do mercado para esta pasta, o que é esperado.
Há assim padrão reativo: crises frequentes
deflagram nomeações em busca de credibilidade.
A frequência de crises cria um padrão que sofre uma mutação inédita na onda populista. Com o "Posto Ipiranga" a delegação é total e abrange todas as áreas e não apenas a econômica.
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