Folha de S. Paulo
As polêmicas quanto à comprovação de
imunização são principalmente ideológico-culturais
O que parece uma restrição legítima da
liberdade para alguns, afigura-se como cerceamento dos direitos individuais
para outros; o que parece uma simples regra sanitária para uns é considerada
uma aberração autoritária por outros. Nem uns nem outros precisam ser rotulados
e condenados por expor sua opinião.
Há que se considerar, porém, que o interesse coletivo é prioritário em situações calamitosas como a de uma pandemia, situação na qual o indivíduo que sofre algum cerceamento de suas vontades precisa alargar sua compreensão para a necessária consideração do bem comum.
O Brasil é acertadamente reconhecido como
um país hospitaleiro, que recebe todos de braços abertos. Se mantivéssemos,
porém, as fronteiras abertas para todos sem exigir comprovante
de imunização, a hospitalidade seria pretexto para hostilidade, pois
os estrangeiros que aqui chegassem estariam recebendo tratamento diferenciado
daquele que é dispensado aos próprios brasileiros, dos quais já se exige o
referido comprovante seja para frequentar estabelecimentos dentro do nosso
próprio território, seja para entrar na maioria dos grandes países. O que serve
para uns deve servir para todos e o que já se aplica aos brasileiros deve ser
aplicado aos estrangeiros.
As polêmicas
quanto à comprovação de imunização são principalmente ideológico-culturais.
De um lado, teorias conspiratórias de que a pandemia não passa de uma criação
globalista com fins de dominação sustentam a revolta contra as restrições
sanitárias; de outro, tais restrições são apresentadas como tabus, como
verdades incontestáveis que podem acabar sendo instrumentalizadas para fins
políticos. É preciso, pois, prudência para não acirrar os ânimos.
Em meio à controvérsia, o ministro Luís
Roberto Barroso, do STF, decidiu liminarmente que, a partir dessa
segunda (13) apenas pessoas imunizadas contra a Covid-19 poderão entrar no
Brasil. A decisão é sensata e provavelmente será mantida, fazendo prevalecer o
bom senso.
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